O lobo mau e o capuchinho vermelho

É óbvio que, se a cena tivesse acontecido com um borra-botas qualquer, a rapariga nunca mais se lembraria do assunto. 

UMA JOVEM AMERICANA, de nome Kathryn Mayorga, veio acusar Cristiano Ronaldo de violação por um episódio ocorrido há nove anos.
Segundo ela, Ronaldo teria cometido sodomia sem consentimento. E depois comprou o seu silêncio por 350 mil dólares. 
Os documentos provam que a história, no essencial, é verdadeira. Mas convém perceber o contexto em que ocorreu. Kathryn trabalhava numa discoteca em Las Vegas, e a sua função era angariar clientes à porta. Valendo-se dos seus atributos físicos, convidava-os a entrar e divertir-se.
Ronaldo entrou, dançou com ela, agarraram-se, excitaram-se – e depois o jogador convidou-a a subir para a penthouse onde estava instalado, para «ver a vista». Ora, toda a gente sabe o que estas frases, nestas situações, querem dizer…
 
ESTA HISTÓRIA da violação de Ronaldo faz-me lembrar outra, contada por um antigo colega meu que foi ‘imediato’ no paquete de cruzeiros Funchal. 
Num determinado cruzeiro viajava uma americana que um dia deixou uma torneira do camarote aberta, provocando uma inundação. O camarote ficou alagado, a senhora escorregou e partiu uma perna. As alcatifas e parte do mobiliário estragaram-se, e a companhia teve um razoável prejuízo. Qual não foi, pois, o espanto do comandante do navio quando, na escala seguinte do cruzeiro, apareceu um advogado com procuração da passageira, pedindo uma elevada indemnização à companhia. Motivo? Esta era responsável pela queda, pois o pavimento do camarote não era antiderrapante. E além dos danos físicos sofridos pela cliente, o advogado invocava danos psicológicos, entre os quais a senhora não poder ter relações sexuais normais com o marido.
Não sei em que ficou esta ação. Mas mostra o espírito dos americanos nestas situações: por tudo e por nada pedem indemnizações. Há advogados especialistas nestes casos, que se agarram a todos os pormenores para extorquirem dinheiro. São uma espécie de sanguessugas, pois quanto mais extorquirem mais ganham.

SOU INSUSPEITO de simpatizar com Ronaldo. Por diversas vezes tenho criticado a sua arrogância. Também não posso ser acusado de nacionalismo bacoco: nunca defendo um português só por ser português. Nem ponho bandeiras nacionais à janela quando joga a Seleção.
Mas francamente, nesta história da violação, é muito difícil embarcar. A violação é um crime gravíssimo, e não se pode banalizar a palavra. Falar em ‘violação’ numa cena como esta é insultuoso para as mulheres que são efetivamente violadas. 
Julgo que o problema principal de Ronaldo é não ter usado preservativo – isso é que fragilizou a sua posição e o levou a assinar o acordo de silêncio. Mas a rapariga não ficou doente. E agora, nove anos depois, aproveitando este movimento do #metoo – em que todos os homens são vistos como uns lobos maus e as raparigas como uns capuchinhos vermelhos -, lembrou-se do caso para extorquir uns dinheiros. E quem melhor do que Ronaldo, rico e famoso, para lhe proporcionar uma pequena fortuna? 
É óbvio que, se a cena tivesse acontecido com um borra-botas qualquer, a rapariga nunca mais se lembraria do assunto. Mas estamos num tempo de caça as bruxas, de salve-se quem puder, de fartar vilanagem nesta questão do sexo. Sopradas pelas organizações LGBT, tudo o que seja culpabilizar as relações heterossexuais é bem-vindo. O piropo é diabolizado, desenterram-se acusações de assédio com 30 anos, e cenas passadas em hotéis entre raparigas que aliciam homens a entrar e sobem aos seus quartos são tratadas como violações.

HAJA UM MÍNIMO de bom senso e de decoro!    E não se diga que estou a reagir de uma forma machista. Se fosse ao contrário, se fosse um homem a aliciar uma mulher e esta, num excesso de entusiasmo, forçasse uma cena de sexo, eu diria exatamente o mesmo. Num tempo de grande liberdade sexual, onde parece que tudo é permitido, aparecem depois os pescadores de águas turvas a quererem tirar dividendos para as suas causas ou para os seus bolsos.
Seja para os #metoos ou para extorquir uns milhões.