A remodelação de Costa

A partir de agora estamos entregues unicamente aos boys, os paus-mandados de Costa, aqueles que cresceram no aparelho do partido e os que sempre orbitaram em torno do amado chefe

A remodelação governamental com que Costa nos brindou esta semana apenas veio confirmar aquilo que somente os mais distraídos, aqueles que ainda acreditam no Pai Natal, se recusam a admitir: Costa governa exclusivamente para as eleições do próximo ano, recorrendo-se da velha máxima de Maquiavel, a de que os fins justificam os meios.

Na verdade não se tratou propriamente de uma remodelação, no sentido adequado do termo, mas sim do despedimento sumário dos ministros independentes e, consequentemente, inapropriados para a execução de uma política centrada apenas na captura de votos.

Com este despedimento colectivo Costa viu-se livre dos únicos rostos que o incomodavam, porque não eram domesticáveis, e que, se bem cada vez menos, procuravam passar uma mensagem de crença nas boas intenções do governo.

A partir de agora estamos entregues unicamente aos boys, os paus-mandados de Costa, aqueles que cresceram no aparelho do partido e os que sempre orbitaram em torno do amado chefe.

Daqui para a frente Costa exige dos seus ministros que propagandeiem até à exaustão as maravilhas da governação socialista, gerindo um orçamento generoso que, graças a um novo e substancial aumento da carga fiscal, permite distribuir umas migalhas por aqui e por acolá, passando-se assim a ideia, obviamente errónea, de que os portugueses vão viver bem melhor com a esmola com que serão agraciados.

Daí a necessidade de se recorrer a ministros com um perfil mais politizado, fidelizados ao PS e ao seu líder, para quem o exercício de funções de serviço público se resume à adopção de medidas que agradem ao eleitorado, mesmo que a sua implementação leve ao esvaziamento dos cofres do Estado, garantindo-se, desta forma, a continuidade na cadeira do poder.

Os novos ministros e respectivos ajudantes, nos quais se destaca aquele desbocado rapazinho que se especializou em debitar disparates e que agora, num ápice, como por magia, se tornou entendido em matéria energética, nomeação que diz tudo sobre a serenidade que esteve por detrás deste novo arranjo governamental, nem sequer vão ter tempo para conhecer os cantos à casa, porque as eleições estão já aí à porta.

Vão-se limitar a jurar promessas e assumir o compromisso, que entretanto cairá no esquecimento, de as concretizar na legislatura seguinte.

Costa sabe bem que é assim que se ganham eleições nesta partidocracia a que fomos condenados, pelo que as suas escolhas para substituir os ministros de que quis ver-se livre foram estudadas criteriosamente, tendo em conta meramente os desígnios eleitorais do próximo ano.

Para a Defesa optou por um boy do partido, mas alguém com experiência em anteriores governos e com peso político suficientemente sólido para que seja do agrado dos militares, tendo a vantagem de não ser propriamente um desconhecedor do sector de que vai ser o primeiro responsável, fruto da sua passagem pelo Instituto de Defesa Nacional.

Para a Economia vai aquele que tem no seu currículo a proeza de ser um dos mais chegados amigalhaços do chefe, prestando-se a uma fidelidade quase canina, razão pela qual não se afastará um milímetro que seja da política de benesses que vai caracterizar o último ano de mandato deste (des)governo.

Para a Cultura estaremos na presença de entre todas as escolhas a mais lógica, porque se trata de uma personagem que milita no lobby que mais peso tem em toda aquela área, pelo que estará, sem dúvida, em vantajosas condições para sossegar as hostes que vai dirigir.

Socorro-me aqui, para justificar o que escrevo, do testemunho da militante socialista que ostenta um nome de respeito, mas cujas ideias e postura está nos antípodas dos pergaminhos de que descende e que agora se lembrou de eleger o Papa Francisco o seu maior inimigo, que se regozijou pela promoção a ministra da sua amiga, não pelos conhecimentos técnicos por ela evidenciados para o exercício do cargo que vai desempenhar, mas sim pela orientação sexual que publicamente assumiu.

Finalmente, para a Saúde há que tirar o chapéu a Costa que, uma vez mais, provou não dever ser comparado aos simpáticos animais de raça asinina.

Consciente de que aquela pasta ministerial é uma autêntica máquina trituradora de quem se prontifica a aceitar o lugar, não quis correr o risco de sacrificar um seu correligionário, lançando às feras quem, pela sua condição de independente, não beliscará o partido perante um mais do que certo fracasso.

A manha de Costa, em todo o seu esplendor, que teima em sacrificar os interesses nacionais em prejuízo do seu desmesurado e obsessivo apego ao poder, jogo para o qual continua a beneficiar da habitual benção presidencial!