Spice Girls, Titanic e Mike Tyson. Qual a sua memória favorita dos anos 90?

As festas passaram para a estante com Também Tive um Pega Monstro – Uma viagem aos anos 90, de Diogo Faro.

O autor e humorista diz que gosta deste revivalismo mas não fica histérico com isso

Quando te abordaram para escrever este livro?

Creio que em abril. A Manuscrito propôs esta ideia à equipa da Revenge of the 90’s e eles convidaram-me para ser eu a concretizá-la. Isto porque, além de sermos muito amigos, eles são muito bons a organizar festas mas não sabem escrever sem colocar vírgulas entre o sujeito e o predicado, por exemplo.

Tinhas alguma linha a seguir ou o conteúdo ficou ao teu critério?

O conteúdo ficou todo ao meu critério. Inevitavelmente, tem um pouco daquela que é a minha perspetiva dos anos 90. Mas tentei que fosse abrangente o suficiente para que toda a gente revisse ali a maneira como viveu aqueles anos.

És saudosista?

Sou, em certa medida. Gosto deste revivalismo, mas não fico histérico com isso. Se andarmos demasiado preocupados em reviver memórias, não criamos presente para continuarmos a ter passado.

Houve algum acontecimento que tenhas incluído no livro do qual já te tivesses esquecido?

Acontecimento grande, acho que não. Mas foi revisitar uma data de bandas, filmes ou figuras da altura que, hoje em dia, já não nos estão tão presentes. Gosto sempre de destacar a inauguração da Ponte Vasco da Gama. Como é que se inaugura uma ponte em condições em Portugal? Como uma feijoada para 15 mil pessoas regada a vinho de pacote. Épico.

Qual foi o teu primeiro telemóvel?

Um Alcatel amarelo que se comprava ao juntar uma data de anilhas das latas de Lipton Ice Tea.

Chegaste até que nível no Snake?

Vou ter de assumir que era muito pouco viciado no Snake. Perdoem-me. Jogava pouco e mal.

Qual era a tua personagem preferida de Dragon Ball?

Aqui, a conversa é outra. Era completamente doente com o Dragon Ball. Admirava muitos deles. O grande amor era sempre o Son Goku, mas também gostava muito do Trunks e do Vegeta. O Tartaruga Genial e o Hércules faziam-me rir muito e a C17 acabou por se tornar uma paixão platónica.

E a tua crush das Spice Girls?

Geri. Fácil.

Preferias tamagotchis ou pega-monstros?

Pega-monstros. Sempre achei os tamagotchis muito estúpidos, na verdade. (risos)

Se tivesses de escolher apenas uma música que refletisse os anos 90, qual seria?

‘Don’t Look Back in Anger’ dos Oasis é das minhas músicas preferidas de sempre. Mas Offspring, GreenDay e Da Weasel marcaram-me mesmo muito na altura.

Os anos 90 voltaram a estar na moda. Quais as razões que apontas para esta ressurreição?

A nostalgia é uma emoção muito forte e que nos liga uns aos outros com essa força toda devido ao sentimento de pertença. E uma vez que os anos 90 já representaram para tantos de nós a adolescência – essa altura da vida tão intensa -, acaba por ser natural que as memórias de então tenham ainda tanto impacto e que nos saiba bem juntarmo-nos à volta delas de vez em quando.

Como defines um noventeiro?

Quem cresceu com a Ana Malhoa no Buéréré, sabe a letra de todos os genéricos do Dragon Ball, quis muito beijar a Britney Spears ou o Nick e achava que Capri Sonne era o melhor sumo do mundo.

Qual o noventeiro mais improvável que já viste numa Revenge?

Ficaria estupefacto se encontrasse lá alguém que não estivesse a adorar lá estar. Ainda não aconteceu.

 

Dos tamagotchi às Spice Girls, passando pela feijoada na ponte, eis um pulinho rápido a esses tempos

 

Tamagotchi

No capítulo dedicado à brincadeira, é difícil escolher por onde pegar. Diogo Faro recorda os tazos, o diabolo, as bolinhas saltitonas, o par Action Man e Barbie, os pega-monstros (só de ler o nome ainda nos lembramos dos dedos a colar), os playmobil, as consolas e jogos de vídeo (viva o Tekken 3!) e dos adorados e versáteis legos. Mas temos de fazer uma menção especial à febre tamagotchi que, de certa forma, antecedeu a caça aos pokémons, mas ao invés de pôr um grilhão virtual aos bichos, tínhamos de os nutrir, acarinhar e cuidar, sob pena de os condenarmos a uma temível morte. Temos só pena que não tenham aparecido por aqui os Moto Ratos em formato boneco ou as Polly Pocket, mas percebemos que numa década marcada por montanhas monstruosas debaixo da árvore de Natal não haja páginas para tudo.

 

Titanic

E eis que um blockbuster baseado numa tragédia tem o mais feliz dos finais para… o estúdio. É que Titanic (de James Cameron, 1998) pode ter sido o filme mais caro da década, mas tornou-se um dos mais rentáveis da História, isto porque mistura uma banda sonora com uma Céline Dion no seu auge com cenas que foram replicadas até à exaustão – quem nunca usou um gradeamento qualquer para abrir os braços ao mundo? E, claro, depois há DiCaprio (Jack) e Winslet (Rose), o par de quem tantos disseram mal mas do qual, efetivamente, ninguém se esqueceu.

Os anos 90 fizeram mais vítimas que, volta e meia, lá retornam em jeito de guilty pleasures: Forrest Gump, Os Suspeitos do Costume, O Sexto Sentido, O Projeto de Blair Witch – que roubou tantas noites de sono a muita gente –, Jurassic Park, Gritos e Matrix são apenas alguns dos exemplos mencionados no livro.

 

Spice girls

É difícil encontrar alma que tenha atravessado a década de 90 que não saiba trautear pelo menos uma música das britânicas. Ou todas, vá. As Spice Girls – Emma, Geri, Mel B, Mel C e Victoria – foram um fenómeno mundial, motivaram incontáveis coreografias de dança tantas vezes ensaiadas nos recreios, puseram as miúdas a vestir-se consoante a sua ‘spice’ preferida. Estima-se que a banda tenha vendido qualquer coisa como 90 milhões de discos e, embora se tenham reunido uma ou outra vez já neste milénio, foi efetivamente entre 1996 e 2000 que viveram o seu apogeu. Hoje continuam a ser consideradas a mais bem-sucedida banda de miúdas. Por cá, e falando de boys e girls bands, não dá para contornar os Excesso, as Non Stop ou os Milénio. Já que aqui estamos, é bom recordar que foi nos anos 90 que o bem português pimba passou a ser presença assídua nos bailaricos e até nas longas viagens de carro de muito boa gente.

 

Claudia  Schiffer

Não havia cá anjos: a década de 90 foi das supermodelos, categoria inventada propositadamente por elas. As Big Five – Naomi Campbell, Linda Evangelista, Cindy Crawford, Christy Turlington e Claudia Schiffer – dividiam entre si as principais campanhas mundiais numa altura em que a publicidade se massificou. Foi Kate Moss, lembra Diogo Faro, quem veio mudar a estética vigente com o seu look cocain chic, mas continuou a haver contratos – milionários! – para todas. A alemã Claudia Schiffer, que se tinha tornado modelo ainda na década de 80, viveu nos anos 90 o auge da sua carreira e tornou-se uma das modelos mais requisitadas da História. Segundo o Guinness Book, continua a ser a modelo que já fez mais capas de revista.

 

Mike Tyson

Desportivamente falando, em Também Tive um Pega Monstros, surge-nos um «omnipresente» Air Jordan, as principais competições e partidas de futebol – como o Mundial de 1994 nos EUA_ou o de 1998 em França, ou ainda a final da Champions de 98/99, disputada entre o Manchester United e o Bayern de Munique, em que os «alemães estiveram a ganhar até ao minuto 90», altura em Sir Alex Ferguson «lança duas pérolas do banco que lhe valem o título» –, e o sucesso e chocante morte de Ayrton Senna (1994). Mas escolhemos destacá-lo a ele: Mike Tyson que, muito antes de aparecer no filme A Ressaca como ele próprio – muito simpático, por sinal, apesar de ter um tigre como animal de estimação –, surpreende o mundo com o seu voraz e inusual apetite por orelhas. Estávamos a 28 de junho de 1997 e no menu estava o pugilista Evander Holyfield. Hoje, tal seria impossível: Tyson não só se retirou como se tornou vegetariano.