A D. ANA e o betão

Há quase 40 anos – completar-se-ão no dia 25 de julho do próximo ano – a ANA anda a atazanar a vida de quantos frequentam os seus espaços de Lisboa, do Porto e de Faro (Beja não conta para este campeonato), tornando-lhes a vida impossível de cada vez que têm de percorrer os caminhos que…

Há quase 40 anos – completar-se-ão no dia 25 de julho do próximo ano – a ANA anda a atazanar a vida de quantos frequentam os seus espaços de Lisboa, do Porto e de Faro (Beja não conta para este campeonato), tornando-lhes a vida impossível de cada vez que têm de percorrer os caminhos que levam até ao avião, ou do avião à porta de saída. 

Enquanto isso, quem administrou a ANA, nacionalizada ou privatizada, proclamou insistentemente a necessidade de um novo aeroporto para a capital, seja ele no declive da Ota, na cumeada da serra de Montejunto, nas salinas do Montijo, ou no Campo de Tiro de Alcochete. O que é preciso é ‘obra’, senhores…! O que a D. ANA gosta é de ver o betão a jorrar, porque, para a felicidade de muitos, o betão corre… e escorre.

Durante mais de trinta anos ninguém pensou a sério em alternativas para um novo aeroporto para Lisboa, que em 1969 (!) já estava na agenda do governo de Marcello Caetano. Na ausência de um pensamento estruturado – quanto mais de um plano − alguém teve a ideia luminosa de despejar betão sobre a Portela, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nunca foram explicadas as razões, mas toda a gente sabe que betão e trabalho fora de horas são o maná das construtoras. Então, quando se fala de trabalhos não orçamentados… os empreiteiros abrem garrafas de champanhe! 

Em todo o mundo, as instalações aeroportuárias são edificadas à base de estruturas metálicas, mas quem dirigia a ANA preferia o betão. E, enquanto clamava que a Portela estava no limite da sua capacidade, mandava encher sapatas, pilares, vigas e lajes de betão… Quem por lá passava, inquiria-se sobre as razões da contradição: se a empresa estava empenhada na mudança de casa, como compreender tanta obra ‘definitiva’? Mas esclarecimentos, nicles! E mais espantados ficávamos quando espaços acabados de remodelar eram destruídos para entrarem de novo em obras. Mistério…

O caos foi-se instalando, a confusão aumentou e a irracionalidade também. De cada vez que fazia alterações, a ANA aproveitava para subtrair mais umas centenas de metros quadrados ao espaço útil, para alargar o ‘centro comercial’, que obriga os passageiros a andar às voltas, para não derrubarem os produtos expostos. Para os senhores da ANA, o que importa é incomodar os passageiros — para que se crie uma vaga de fundo de descontentes a exigir um novo aeroporto. Até lá, conformem-se com os tapumes, as zonas interditas, os atrasos, as mudanças de portas e as demoras na entrega das bagagens. E tratem de engrossar o coro dos que protestam contra o inferno da Portela.

Privatizada a ANA, vendida a ponte Vasco da Gama, resolvido o «jamais» do ministro Lino, o aeroporto na outra banda passou a ser uma prioridade. Não importa se é no Montijo, em Alcochete, no Barreiro ou na Moita do Ribatejo, o que é preciso é despejar passageiros do outro lado do rio, para haver mais uns milhares de carros a circular na Ponte Vasco da Gama. 

A Vinci – patroa da D. ANA, dona da ponte e comadre da Portway – ficará muito agradecida.