Sporting. Peseiro é o primeiro sacrificado da era Varandas

O técnico coruchense sabia que estava a prazo nos leões e o chicote estalou após a impensável derrota caseira com o Estoril, para a Taça da Liga. Leonardo Jardim, Paulo Sousa e Miguel Cardoso são hipóteses para a sucessão, mas para já será o filho de uma lenda leonina a assumir as rédeas

O destino estava traçado desde o início: José Peseiro era um treinador a prazo nesta segunda passagem pelo Sporting. Ninguém esperava, todavia, que a mesma durasse tão pouco. As exibições tristonhas, porém, foram reduzindo a margem de manobra do técnico natural de Coruche, e o desaire caseiro frente ao Estoril, da II Liga, na noite desta quarta-feira, na segunda jornada da fase de grupos da Taça da Liga, acabou por ditar o afastamento do treinador de 58 anos.

O primeiro treinador da era Varandas nem chegou, assim, a durar dois meses – Frederico Varandas tomou posse como presidente do Sporting a 9 de setembro. Durante a campanha eleitoral, o antigo diretor clínico dos leões, garantiu sempre contar com Peseiro, elogiando mesmo a escolha da comissão de gestão liderada por Sousa Cintra. “Eu conheço o José Peseiro e acho que é muito feliz a escolha de um treinador português e que conhece o futebol português, que sabe o que significa jogar em Braga, jogar em campos como o do Tondela ou do Aves… Peseiro é um homem muito competente, que conhece o futebol português e é o treinador do Sporting. Foi a escolha dentro do possível e que demonstra coragem. Será o meu treinador caso seja eleito”, garantia a 7 de julho, em declarações à Rádio Renascença.

Nos últimos dias, porém, o discurso do presidente leonino mudou: em entrevista a Daniel Oliveira, Frederico Varandas admitia já que Peseiro podia “não ser o treinador para a época”, embora salientando não entender como melhor opção despedir um técnico a meio da temporada. “Muitos dos que votaram em mim disseram-me ‘Frederico, agora é correr com o Peseiro’. Sei o que significa mudar o treinador a meio da época, os riscos e as vantagens que pode ter. No dia em que decidir mudar alguém, seja um treinador, um técnico de equipamentos ou um médico, tenho de salvaguardar uma hipótese que me garanta melhorar. José Peseiro é o treinador do Sporting, sabe o que é o futebol português e sabe que está dependente dele”, realçava o presidente dos leões.

A decisão de deixar cair Peseiro acabou por se precipitar com a derrota perante os canários, mas já estaria a ser cogitada há algumas semanas. Em particular desde o jogo de 7 de outubro em Portimão, no qual o Sporting perdeu por 4-2 com o Portimonense, que na altura ocupava o último lugar do campeonato. As exibições com o modesto Loures, para a Taça de Portugal, onde o Sporting venceu apenas por 2-1, e com o Arsenal para a Liga Europa (derrota caseira por 1-0), também estiveram longe de agradar aos adeptos e ao presidente leonino, bem como algumas decisões do técnico no que respeita à definição e gestão do plantel.

Frederico Varandas comunicou a sua decisão ao treinador na manhã desta quinta-feira, mas a mesma ainda não foi oficializada pelo clube junto da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários), dado que ainda não terá sido conseguido um entendimento mútuo para a rescisão do contrato que ligava Peseiro ao Sporting até ao fim da temporada. Segundo o “Jornal Económico”, o técnico deverá receber 1,2 milhões de euros de indemnização.

José Peseiro deixa o Sporting no quinto lugar do campeonato, a dois pontos dos líderes FC Porto e Braga e a um de Benfica e Rio Ave, e na segunda posição do grupo E da Liga Europa, a três pontos do Arsenal. Na Taça da Liga, os leões ocupam igualmente o segundo lugar do grupo D, a três pontos do Feirense, no terreno do qual irão decidir a passagem à final four, e seguem na quarta eliminatória da Taça de Portugal, onde irão defrontar o Lusitano de Vildemoinhos, do Campeonato de Portugal. Em 14 jogos oficiais, Peseiro somou nove vitórias, um empate e quatro derrotas no comando do Sporting.

 

Tiago Fernandes é solução imediata Como é habitual, de imediato foram lançados vários nomes como possíveis sucessores do técnico de 58 anos. Leonardo Jardim, Paulo Sousa e Miguel Cardoso, todos atualmente sem clube, foram os referidos com maior insistência. Para já, todavia, será outro homem a liderar os destinos da equipa: Tiago Fernandes, que desempenhava as funções de adjunto de Peseiro, depois de vários anos a liderar os diversos escalões de formação do Sporting.

Tiago, de 37 anos, é filho de Manuel Fernandes, uma das maiores glórias da história do clube leonino, e foi na equipa técnica do pai que começou a desempenhar funções, primeiro na União de Leiria e depois no Vitória de Setúbal, chegando ao Sporting em 2011/12. Nos leões, destacou-se principalmente à frente da equipa de juniores, tendo protagonizado um célebre bate-boca com Luís Boa Morte, seu antecessor no cargo e que o acusou de só estar naquela função por ser filho de quem é.

Foi já o antigo médio de Montijo, Barreirense, Alcochetense e Vitória de Setúbal B a comandar o treino desta quinta-feira e será ele a orientar a equipa no encontro de domingo nos Açores, frente ao recém-promovido Santa Clara – que está em sexto, a apenas dois pontos do Sporting. Em cima da mesa está a possibilidade de ser também Tiago Fernandes o técnico na partida de quinta-feira em Londres, frente ao Arsenal. De regresso à equipa técnica dos leões está também o antigo guarda-redes Nélson, que havia sido afastado por Peseiro.

 

Vitória irredutível Esta foi a primeira “chicotada psicológica” da edição 2018/2019 do campeonato nacional, numa melhoria significativa em relação às últimas temporadas: em 2017/18 e 2016/17, por esta altura temporal (embora então já estivessem disputadas dez jornadas, ao invés das atuais oito), eram já cinco os clubes a ter mudado de treinador. Em ambos os casos, a primeira saída aconteceu logo à quinta jornada.

Outro dos nomes que mais tem sido apontado como estando perto da saída é Rui Vitória, brindado com apupos e lenços brancos após a derrota da última jornada no Jamor, frente ao Belenenses, SAD. O técnico do Benfica, porém, recebeu novo voto de confiança do seu presidente, Luís Filipe Vieira, durante esta semana – o líder encarnado garantiu que Vitória só não cumprirá o contrato na totalidade (até 2020) se não quiser -, e já esta quinta-feira, na antevisão do jogo frente ao Moreirense, reiterou a total indisponibilidade para abandonar o comando técnico das águias. “Nunca daqui quis sair e nem quero!”, disparou, lamentando também a saída de Peseiro do Sporting.