PSD e CDS querem Marcelo durante dez anos

O Presidente anunciou a recandidatura mas recuou logo a seguir, remetendo o anúncio para 2020 –  uns meses antes das eleições de Janeiro de 2021. Os seus apoiantes nem querem ouvir falar noutra hipótese.

A dúvida sobre a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa continua e o Presidente da República também continua a colocar pontos de interrogação na sua decisão. Um mandato ou dois mandatos, cinco ou dez anos? As perguntas, por agora, continuam sem resposta. Ora Marcelo diz que se recandidata, mas garante que é ‘a brincar’, ora Marcelo sugere que vai ficar apenas cinco anos. O discurso é de reticência desde que foi eleito, numa espécie de tabu, mas apoios não lhe faltam. 

Apesar de o Presidente não esclarecer se fica cinco ou dez anos, há quem encare a ideia de mais um mandato de forma positiva. É o caso do antigo líder parlamentar do PSD. O ex-dirigente Luís Montenegro vê «com bons olhos» a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa e, adianta  o ex-líder parlamentar, a decisão deve ser feita «quando ele entender que deve fazê-la, as eleições são em 2021, o timing é o dele».

Do lado do CDS, a análise segue a mesma linha: a decisão pertence a Marcelo Rebelo de Sousa. Nuno Magalhães considera que «essa é uma decisão pessoal». No entanto, perante um cenário de recandidatura, não só o Presidente da República tem o seu apoio, como o seu voto. «O cargo de Presidente é o único cargo dos órgãos de soberania que é eleito de forma pessoal. Se me pergunta, como cidadão, se eu gostava que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa se recandidatasse? Gostava. Se me pergunta se votaria nele? Obviamente», diz o líder parlamentar do CDS ao SOL. 

A verdade é que nenhum Presidente da República eleito completou apenas um mandato. Desde Ramalho Eanes (1976-1986), passando por Mário Soares (1986-1996), Jorge Sampaio (1996-2006) e acabando em Aníbal Cavaco Silva (2006-2016), todos se recandidataram a um segundo mandato e completaram dez anos em Belém. 

Paulo Rangel refere exatamente este ponto como uma das razões para a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. «Até agora, em Portugal, desde 1976, não houve nenhum caso, absolutamente nenhum, em que o Presidente em funções não se recandidatasse», disse o social-democrata, que não só destacou a afinidade partidária como também o bom trabalho que o Presidente da República tem vindo a desenvolver desde o início do mandato. 

Em relação às dúvidas que Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a demonstrar, Rangel afirma que é normal e em nada engloba uma estratégia politica. «Quando o Presidente diz que tem dúvidas, está a espelhar aquilo que é natural, porque a pessoa que ocupa um cargo público sabe o desgaste que ele acarreta, mesmo estando a exercer bem a sua função. Muitas vezes tem vontade de sair, porque deixa de ter vida própria. Acho natural que o Presidente da República diga que tem dúvidas, não acho que seja um jogo tático. Acho que nisso ele é muito genuíno, e no fim, ele vai ser candidato, foi o que sempre aconteceu», disse. 

Já a líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes, tem «uma opinião muito boa do Presidente da República». Foi a Belém, assim que foi eleita líder da JSD, pedir a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa por achar que o Presidente «tem feito com que muita gente volte a acreditar nos políticos» e admite que seria importante a sua recandidatura. «Acredito que se vai recandidatar. Acho que era importante que o fizesse», diz, em entrevista ao SOL a líder da JSD.  

 

Marcelo ‘brinca’ com recandidatura

A última vez que Marcelo se referiu a uma possível recandidatura foi na segunda-feira, no encontro com os representantes das startups portuguesas presentes na próxima edição do Web Summit, com início marcado para a próxima segunda-feira. No Museu dos Coches, o Presidente da República admitiu que a continuação do evento em Lisboa pode ter como «efeito colateral» a sua recandidatura. «Não dormi muito, como é habitual. E pensei: há alguma vantagem adicional para a minha vida de ter dez anos da Web Summit em Portugal? E eu disse: bom, há algo que pode tornar-se um efeito colateral, não necessariamente muito positivo, que é ter a responsabilidade de me candidatar novamente à Presidência», referiu. As declarações geraram reação e, mais tarde, o Presidente explicou que, afinal, tudo não passou de uma brincadeira: «Ironizei. Afirmei que ter a Web Summit por tantos anos tinha aspetos positivos e negativos». 

Marcelo já tinha dito, em agosto deste ano, numa visita a uma das aldeias afetadas pelo incêndio de Monchique, que a decisão «está nas mãos de Deus». E parece que assim vai continuar até setembro de 2020.