Pinto Luz. “Custa-me que o PSD não possa defender um aumento do salário mínimo”

Antigo dirigente do PSD foi o orador do último almoço-debate do International Club of Portugal. Na plateia, estiveram nomes como Luís Montenegro e Marco António Costa  

O antigo dirigente do PSD Miguel Pinto Luz defendeu que os partidos moderados correm hoje risco de vida por – devido ao “comodismo” e à “sobranceria” – preferirem “fazer mais do mesmo”. Numa intervenção sobre “Portugal e a Europa: como construir uma alternativa” que fez num almoço-debate do International Club of Portugal, o atual vice-presidente da câmara de Cascais salientou que existe um descontentamento dos portugueses para com os partidos do centro e que isso é notório nas sondagens.

Falando especificamente do seu partido, o autarca afirmou que lhe custa “muito que o PSD não possa, por exemplo, defender o aumento do salário mínimo” e que esse tema faça apenas parte do “cardápio da CGTP, da UGT e dos partidos de esquerda”. “Um partido social-democrata tem de almejar isso para os nossos cidadãos”, defendeu.

Mas, para Pinto Luz, a defesa de um aumento no salário mínimo não deve ser feita como a esquerda o faz, apresentando “valores de 650, 750, 850 euros, como se estivesse num leilão”. Em vez disso, o PSD é “um partido sério que estuda e que percebe que do outro lado há empresários e que há respostas para dar aos empresários”.

Apesar de defender várias mudanças no paradigma político português e no próprio PSD, Miguel Pinto Luz quis “desfazer o suspense da plateia” e assegurou que a sua intervenção nada tem a ver com uma eventual candidatura a qualquer cargo. “Só quero provocar as vossas consciências”, explicou.

Na plateia, a ouvir os conselhos de Pinto Luz, estavam vários sociais-democratas, como o antigo líder parlamentar Luís Montenegro, o ex-vice-presidente Marco António Costa, o presidente da câmara de Cascais e antigo vice-presidente do PSD, Carlos Carreiras, os líderes das distritais de Lisboa, Coimbra, Setúbal, Viana do Castelo e Santarém e vários deputados.

“Europa é um tema fundamental”

Na sua intervenção, Miguel Pinto Luz sublinhou que a Europa é “um tema fundamental para o nosso futuro” e alertou que, apesar de não se ganhar “eleições falando disso nem tendo ideias sobre isso”, é preciso “trazer a Europa para o centro da discussão política do país”. 

Para que isso aconteça, o antigo secretário de Estado alertou que é necessário repensar a representação de Portugal em Bruxelas. Pinto Luz lembrou que a Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (REPER) tem 54 elementos e que é das mais pequenas entre os vários países europeus. ”É cerca de metade da média das outras ‘REPERs’ por essa Europa fora. Estamos muito longe de ter uma representação que seja o mínimo aceitável para estarmos bem representados nesta Europa”, alertou.

Miguel Pinto Luz defendeu ainda que o secretário de Estado dos Assuntos Europeus devia estar colocado em Bruxelas e não em Lisboa. 

Mas a “subrepresentação em Bruxelas” não é o único problema que Portugal tem de enfrentar. Para o autarca de Cascais, o nosso país é também muito afetado pelos “dois pesos e duas medidas da Europa”. Pinto Luz lembrou que a Alemanha, nos últimos três anos, “apresenta superavits da balança corrente na casa dos 8,5%” e nunca foi penalizada. Já Portugal “entrou em procedimento por défice excessivo por termos ultrapassado o limite de 3% do défice”. 

O antigo dirigente do PSD mostrou-se também preocupado com as previsões económicas para a Europa. Segundo as estimativas apresentadas no Pinto Luz, em 2050 a maior economia europeia, a Alemanha, será apenas a nona economia do mundo. E a França – já excluindo o Reino Unido por causa do Brexit – será a 19ª economia do mundo. “Ou seja, daqui a 30 anos a Europa contará apenas com dois Estados-membros no G20 e nenhum no G7”, alertou.

E os problemas não ficam por aqui. O vice-presidente da câmara de Cascais referiu que em 2019, com as eleições europeias, o Parlamento arrisca-se a perder a sua “maioria moderada”. “As suas duas famílias maiores, o Partido Popular Europeu e os socialistas europeus, estão cada vez menos grandes e menos familiares”, defendeu. 

Mas quem são os culpados? Para Pinto Luz, são os próprios partidos do centro. “Os partidos tradicionais esqueceram-se do seu papel de ouvir, avaliar e responder aos anseios dos cidadãos. Mas não foram os problemas que desapareceram. Foram os moderados que deixaram de procurar respostas para eles”, indicou.

Em sentido contrário, os populistas ganharam força e por uma razão simples, defendeu o antigo conselheiro do PSD, “não têm medo de falar da realidade”. “Falam com um à vontade tal que já não se vê nos partidos moderados. E as suas propostas podem ser ilusórias e erradas, e são, mas a verdade é que as apresentam sem medo”, referiu.

Miguel Pinto Luz concluiu afirmando que agora, e para combater o crescimento dos partidos populistas, os moderados têm de “levantar a cabeça e não ter medo”.