Salazar injetava com frequência um medicamento “não identificado”

Autores do livro ‘A Queda de Salazar – O Princípio do Fim da Ditadura’ referem que não se tratava de um medicamento que se podia encontrar em Portugal

No mais recente livro sobre a vida de António Salazar – ‘A Queda de Salazar – O Princípio do Fim da Ditadura’ – , escrito por José Pedro Castanheira, António Caeiro e Natal Vaz,  é revelado que o ditador era frequentemente administrado no ditador um medicamento “não identificado”.

José Pedro Castanheira afirmou, numa entrevista à agência Lusa, que se trata de “um dado novo”. “Não só as injeções que Salazar recebia e, nos últimos tempos, a uma frequência de 'dia sim dia não'", acrescenta.

O livro refere que as “misteriosas injeções” eram dadas pelo enfermeiro João Rodrigues Merca, e que não se sabia ao certo qual o conteúdo das injeções. No entanto, no diário de Salazar, o ditador fazia referência ao medicamento Eucodol – estupefaciente que era utilizado por Hitler no final da Segunda Guerra Mundial.

 "Nós fazemos uma estatística das injeções, elas são referidas no diário. É difícil saber que substância tomava. É referido uma vez um nome, mas há razões para pensar que não foi sempre essa substância", acrescentou José Pedro Castanheira.

O autor revelou também a troca de correspondência entre Salazar e o embaixador Marcelo Matias, onde era referida uma substância que não se encontrava em Portugal. "Em julho de 1968, um mês antes da queda da cadeira (agosto de 1968), Salazar agradece ao embaixador que estava em Paris e tinha sido ministro dos Negócios Estrangeiros o envio de várias caixas de injeções. Não falam do nome do medicamento, mas Salazar diz que era um medicamento que não existia em Portugal, o que em 1968 já não seria o Eucodal porque nessa altura já se vendia livremente em Portugal, oriundo da indústria farmacêutica alemã". José Pedro Castanheira acrescenta ainda que "infelizmente o nome do medicamento não é revelado, mas é inquestionável que continuava a ser injetado 'dia sim dia não'".

José Pedro Castanheira, António Caeiro e Natal Vaz referem que a "farta literatura historiográfica sobre Oliveira Salazar é omissa", relativamente às injeções. "Nenhum dos seus biógrafos lhes faz referência. Tão-pouco Eduardo Coelho, nas suas memórias de médico assistente. Contactados três dos médicos que acompanhavam Salazar após a cirurgia ignoravam pura e simplesmente este dado clínico", refere ainda o escritor.