Imperativo do conhecimento na Proteção Civil

Ao redigir estas palavras, recordo o que ouvi insistentemente ao meu bom amigo Dr. Costa Alves, meteorologista eminente e figura pública que durante muitos anos foi o rosto dos boletins meteorológicos na RTP, como então se diziam

O nosso país já dispõe de recursos humanos especializados podendo evitar contratações ditadas por critérios não técnicos ou científicos.

Ao redigir estas palavras, recordo o que ouvi insistentemente ao meu bom amigo Dr. Costa Alves, meteorologista eminente e figura pública que durante muitos anos foi o rosto dos boletins meteorológicos na RTP, como então se diziam. Já lá vão mais de 15 anos quando, no Porto e com uma equipa que chegou a envolver quase 40 prestigiados especialistas, se iniciou um caminho que ainda hoje precisa ser percorrido. Dizia o Dr. Costa Alves: «É necessário injetar ciência no Sistema». O ‘sistema’ era o Sistema Nacional de Proteção Civil e, há data, ainda conviviam em Portugal um Serviço Nacional de Bombeiros e um Serviço Nacional de Proteção Civil, com direções e autonomias próprias.

As palavras do reputado meteorologista vêm-me à memória com insistência pela sua enorme atualidade. Depois do caminho que a Proteção Civil seguiu desde então, onde foram cometidos muitos erros mas onde também muito se ganhou, a necessidade de qualificar cientificamente os vários patamares e intervenientes da atividade de proteção civil nunca foi tão sentida. Por duas razões. Primeiro, porque a natureza dos combates que o socorro tem que travar se aprofundou e mostrou fragilidades de um sistema que é muito baseado no fator humano – veja-se o caso dos incêndios florestais. Em segundo, porque a evolução tecnológica e as possibilidades que a mesma envolve exigem aptidões novas e níveis de conhecimento que estão muito para além dos aspetos vulgarmente designados de operacionais, que radicam no ‘saber fazer’.

Desde o topo até à base, seja nos Agentes, seja nas autarquias ou nos organismos do Estado, a preparação científica e tecnológica, a capacidade de pensar e de decidir com fundamentos científicos – a base do ‘saber saber’! – são fundamentais em todos os níveis de decisão: gestores do sistema, comandantes, técnicos, responsáveis políticos, etc..

Esta realidade foi para aqui chamada porque ainda hoje identifico no setor da Proteção Civil um ‘tique’ que a tolhe e condiciona no desempenho presente e no seu progresso futuro. Tique que não se justifica. É visível em muitos concursos que se confunde o essencial com o acessório e se continuam a contratar pessoas para lugares chave sem o perfil que se recomendaria. Por ‘dores’ de crescimento ou por vícios instalados, continuam a ser privilegiados critérios de recrutamento que já estão desfasados dos tempos. Ainda por cima, quando o país desaproveita indivíduos saídos de universidades e politécnicos com a preparação específica, conhecimentos e visão sistémica sem par e que os devia diferenciar positivamente naqueles processos.

Com os novos diplomas recentemente anunciados pelo Governo em matéria de Florestas e Proteção Civil – Conselho de Ministros de 25 de outubro -, bem se espera que seja esse o caminho do Futuro!

* Diretor da Licenciatura em Proteção Civil da Universidade Lusófona do Porto