Touradas e terroristas amigos dos animais

A tourada está a agitar as hostes socialistas e a justiça popular da IRA promete fazer estragos no PAN

Se Ary dos Santos fosse vivo, teria, certamente, razões para escrever outra tourada, não para ser cantada no Festival da Canção,  mas sim na Assembleia da República. O que se passou nos últimos dias com as questões dos animais dá para fazer não a letra de uma música mas sim um verdadeiro musical. Mas vamos por partes: há umas semanas, a ministra da Cultura provocou uma polémica do tamanho da Las Ventas, a segunda maior praça de touros do mundo, quando disse que as touradas não são «uma questão de gosto», mas sim uma questão «civilizacional»,  tudo isto para justificar a manutenção do IVA a 13% nos espetáculos tauromáquicos. Podia muito bem ter ficado calada e não mexer na questão, mas Graça Fonseca quis pegar o toiro pelos cornos e disse de sua justiça, dando início a um verdadeiro terramoto nas hostes socialistas. Primeiro foi o histórico dirigente Manuel alegre a insurgir-se contra as palavras da governante, dizendo que as mesmas alimentam os novos bolsonaros, numa alusão ao extremismo do novo Presidente brasileiro.

 

Alegre não ficou sem resposta e António Costa escolheu o Público para defender a honra da sua ministra, dizendo que o camarada não o deve recear como «mata-toureiros, qual versão contemporânea de mata-frades». Mas os aficionados não se ficaram e tentaram mover as suas influências junto dos deputados socialistas adeptos das corridas de touros. E o que se passou a seguir? Carlos César, líder parlamentar do PS, surpreendeu tudo e todos ao dizer que a bancada socialista vai propor a descida do IVA das touradas para 6%. Costa foi aos arames com esta ‘desautorização’ pública e já se prevê que obrigue os deputados a disciplina de voto, que é como quem diz, que vote como ele quer.

Onde irá parar esta guerra, não se sabe. Mas não deixa de ser estranho que o secretário-geral do partido, e ao mesmo tempo primeiro-ministro, não tenha sido informado desta decisão de Carlos César, que além de líder parlamentar é também presidente do PS. Veremos onde vai acabar esta tourada.

 

O que também não sabemos é onde começa e acaba a ligação do PAN ao grupo terrorista que dá pelo nome de IRA – será que a sigla foi escolhida ao acaso? –  e que significa Intervenção e Resgate Animal, que ficou conhecida, pelo menos para mim, depois de uma excelente reportagem do Observador de novembro do ano passado. Através de Tânia Pereirinha e João Porfírio ficámos a saber que a IRA é capaz de sequestrar e agredir os donos de animais que maltratem cães, gatos, cavalos e mulas. Digamos que são uma espécie de terroristas  que aplicam a justiça popular a quem consideram não respeitar os direitos dos  animais. Imagine-se se pensam o mesmo em relação às vacas, porcos, cabritos, coelhos e por aí fora. Os matadores vão ter de começar a ser defendidos pelo corpo de intervenção da PSP ou da GNR. Afinal, estes justiceiros são diferentes em quê daqueles que fizeram o ataque à academia de Alcochete? 

Mas qual a razão para se ter falado outra vez neste grupo terrorista? É que a TVI deu conta de que a PJ está a investigar Cristina Rodrigues, membro da comissão política do PAN, além de chefe de gabinete do partido na AR, por, alegadamente, ser uma das personagens que aparece encapuçada nos vídeos da IRA. Cristina Rodrigues apenas confirmou que é advogada da organização, mas falta o resto.

O mundo está mesmo virado do avesso. Que falta faz Ary dos Santos.