Manuel Alegre diz que “há deputados do PS que têm medo do PAN”

Histórico socialista salienta que André Silva, do PAN, “pode vir a ser muito útil em determinadas circunstâncias de maioria”

O histórico socialista Manuel Alegre ainda não respondeu à carta aberta que o primeiro-ministro lhe deixou na semana passada, no jornal Público, – por causa do IVA cobrado nas touradas – frisando que a troca de ideias entre os dois vai passar a ser em privado.

Mas, nem por isso Manuel Alegre deixa de tecer duras críticas ao governo publicamente. Em entrevista conjunta ao DN/TSF, o socialista diz que alguns membros do governo e deputados do PS “que têm medo do Pessoas-Animais-Natureza (PAN)”. Isto porque, explica Manuel Alegre, “há quem considere que o deputado do PAN [André Silva] pode vir a ser muito útil em determinadas circunstâncias de maioria”, remata.

Mas para Manuel Alegre o receio do PS não se fica pelo PAN, associando a decisão do grupo parlamentar – que nesta questão avançou contra a posição do governo – à conquista dos votos do eleitorado de esquerda urbano, que vota tradicionalmente no Bloco de Esquerda. “Anda tudo com muito medo do urbano ou da esquerda urbana. Estão muito enganados, porque as pessoas gostam de pensar pela sua cabeça, são livres”, sublinha o socialista ao DN/TSF.

E apesar de entender que não está em causa a proibição do espetáculo e sim o valor do imposto cobrado, o histórico socialista entende que “as coisas estão todas ligadas”, sublinhando, mais uma vez, que ir ou não às touradas é uma questão “de liberdade”, sendo este o motivo que o levou a envolver-se na polémica.

Aviso à ministra Manuel Alegre – que diz que não vai com regularidade às touradas – aproveitou ainda para avisar que as declarações da ministra da Cultura, Graça Fonseca, que se referiu à questão como sendo um assunto de “civilização”, podem vir a provocar uma “fratura” no país.  

“Não é a ministra que define o que é ou não é civilização”, defende o histórico socialista. “Eu não estou fora da civilização, escrevi poemas sobre touros, o Lorca não está fora, o João Cabral de Melo Neto não está fora, o Ortega y Gasset não está fora, o Goya não está fora, o Picasso não está fora. A Guernica é o quadro-símbolo da Guerra Civil de Espanha. Sabem quais são os dois grandes símbolos que lá estão? O cavalo e o toiro. Portanto, cuidado, quando vamos falar de civilização”, disse o socialista ao DN/TSF.

A polémica Há uma semana que o IVA cobrado nos espetáculos de tauromaquia está a gerar polémica, abrindo um confronto entre o PS e o governo.

O Executivo, através do Orçamento do Estado para 2019, quer manter a taxa de IVA nos 13%. A decisão de António Costa foi contestada tanto pelos partidos da esquerda que sustentam a solução governativa como por alguns socialistas, com posições que estão longe de ser unânimes.

Na passada sexta-feira, à última hora, o grupo parlamentar do PS decidiu avançar com uma proposta de alteração ao OE/2019 para reduzir a taxa do IVA das touradas para os 6%, não sendo esta uma decisão unânime na bancada.

E a tensão aumentou quando o presidente do grupo parlamentar socialista, Carlos César, não avisou o primeiro-ministro da decisão dos deputados, sendo que António Costa soube poucos minutos antes de a medida ser anunciada, sabe o i.

O primeiro-ministro não tem poderes para impor a disciplina de voto aos deputados mas não perdeu tempo a enviar um aviso à navegação: “Obviamente que se fosse deputado do PS votaria contra e tenho a esperança que a proposta apresentada pelo governo seja aprovada”. No entanto, Costa não deixou de salientar que “o grupo parlamentar do PS é naturalmente autónomo, tem a sua liberdade e autodeterminação” salientando “que há uma divergência” entre o PS e o governo.

A acompanhar a decisão do governo, está o Bloco de Esquerda, que também não quer reduzir o IVA cobrado nas touradas, propondo mesmo uma solução mais radical que passa por subir o IVA para os 23%.

Já o PCP acompanha a decisão de alguns deputados socialistas e defende a redução do IVA para os 6%.