Califórnia. Chuva pode prejudicar os esforços de busca e salvamento

Balanço é de 77 mortos até agora. Quase mil pessoas continuam desaparecidas. Fogo não deverá ser contido antes do final do mês

A previsão de chuva costuma ser uma boa notícia quando se tenta combater um incêndio. E na Califórnia, a braços ainda com um incêndio de grandes proporções, o facto de a meteorologia anunciar chuva para esta quarta-feira irá ajudar no combate ao incêndio de Camp Fire, no norte do estado, que já se tornou no mais mortífero na história californiana, e que ainda ontem, segundo as autoridades, só estava contido em dois terços. As previsões apontam para que só no final do mês se consiga dar por extinto, mesmo com a precipitação, até porque os chamados ventos de Santa Ana continuam a complicar o combate às chamas.

Só que a boa notícia para os cinco mil bombeiros que ainda estão no terreno, traz preocupação às equipas de resgate e salvamento (composta por umas 400 pessoas) que estão no terreno para tentar localizar as quase mil pessoas ainda dadas como desaparecidas. A chuva que apaga fogos também transforma o chão coberto de cinzas numa pasta grossa que torna a procura de pistas num trabalho mais árduo.

Até agora, foram declarados 77 óbitos e da lista de desaparecidos já se riscaram 283 pessoas este fim de semana, das 1276 que famílias e vizinhos declararam como desaparecidos. No entanto, tal como muitas vezes acontece neste tipo de tragédias, é provável que a contabilização dos desaparecidos esteja inflacionada pela duplicação de nomes ou por pessoas que estão a salvo e não sabem que estão dadas como desaparecidas.

“Esta é uma lista dinâmica. Flutua para cima e para baixo todos os dias”, afirmou o xerife do condado de Butte, Kory Honea aos jornalistas durante o fim de semana.

Mais de 10.500 edifícios, entre residências e empresas, foram arrasados pelas chamas, cujo fogo atingiu temperaturas tão altas que se teme tenha transformado as pessoas em cinzas, tornando quase impossível descobrir o seu rasto no carbonizado terreno de Paradise, comunidade de 26 mil pessoas que se esfumou em grande parte.

“Disseram-nos para olharmos o melhor que pudermos, mas é possível que mesmo assim não consigamos encontrar nada de alguém”, afirmou à Reuters Trish Moutard, voluntária da California Rescued Dog Association. “Se o fogo permaneceu o tempo suficiente e ardeu a uma temperatura suficiente, os ossos podem ter ficado, no mínimo fragmentados em pedaços tão pequenos que não os vemos e é possível que nem os cães os encontrem”, acrescentou.

As autoridades temem que realmente não se consiga chegar a nenhuma conclusão sobre o número total de vítimas do incêndio de Camp Fire. Paradise poderá nunca saber quantos dos seus habitantes foram mortos pelas chamas.

Às equipas foi dada a indicação para acelerarem o processo de busca de modo a conseguir terminar os trabalhos antes de que a chuva comece a dificultar a tarefa. No entanto, é pouco provável que isso seja conseguido. E os perigos de deslizamentos de terra e avalanchas de pedras por causa da chuva podem pôr em perigo as equipas no terreno. No terreno varrido pelo fogo, quase não há vegetação para absorver a chuva e manter a terra no seu lugar.

 Por outro lado, a precipitação ajudará a tornar o ar mais respirável no norte da Califórnia, onde o fumo e a poluição são um perigo para saúde. Rebecca Buchholz, do National Center for Atmospheric Research, classificou a qualidade do ar como “completamente louco”.

A Organização Mundial de Saúde estabelece como máximo saudável de partículas na atmosfera 25 microgramas por metro cúbico de material particulado (partículas muito finas de sólidos suspensas no ar), em algumas zonas da Califórnia registaram-se 1500 microgramas, segundo a Bloomberg. “É incrível a quantidade tão alta destas pequenas partículas”, acrescentou Buchholz. Este tipo de partículas, conhecidas por PM2,5, em grande quantidade podem levar a problemas respiratórios crónicos, irritação dos olhos e dos pulmões.

No sábado de manhã, os 425 mil habitantes de Oakland acordaram com a triste notícia de que a cidade tinha a pior qualidade do ar em todo o planeta, com 167 microgramas por cm3, nível considerado insalubre pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Para se ter termo de comparação, Kanpur, na Índia, a segunda cidade mais poluída do mundo nesse dia, aparecia com 132 microgramas por cm3. Na sexta-feira, a situação tinha sido ainda pior, com os cinco primeiros lugares ocupados por grandes aglomerados populacionais da Califórnia: Stockton, Sacramento, São Francisco, Oakland e San Jose. Brandon Miller, meteorologista da CNN, confirmou que “nenhuma região da Terra tinha tantas estações nos níveis mais altos”.

As populações foram aconselhadas por esses dias a manter-se no interior, só ir à rua em caso de necessidade e a usar máscara caso tivessem mesmo de o fazer. Escolas, universidades e os transportes públicos chegaram a estar suspensos devido à má qualidade do ar.