Bancos do futuro… sem agências!

Até à nacionalização, o número de agências não chegava a 1.000, mas 6.000 correspondentes asseguravam uma banca de proximidade

Sempre que é anunciado o encerramento de uma agência bancária há rebuliço na terra: vigílias, ultimatos e diretos nas televisões, que poderiam ser evitados se o processo fosse gerido com uma lógica de conjunto.  

As velhas agências arrastam custos que estão refletidos na enormidade de comissões, a que alguns já chamam ‘imposto sobre as contas bancárias’. O leitor, que já não recorda a última vez que foi ao banco, está a pagar 4.500 agências – já foram mais de 6.000 – com cinco funcionários ocupados com trabalho burocrático e só um a atender clientes.

As empresas, tal como os particulares com património financeiro elevado, já utilizam a banca à distância, com as vantagens do aconselhamento especializado… e personalizado. Que resta? Aberturas de conta, depósitos, levantamentos superiores a 400 euros? Mas, para isso, uma só pessoa é suficiente, libertando uma loja com 200 m2.  Essa pessoa – o ‘agente vinculado’ – pode ser um funcionário, ou um ex-bancário com um posto de trabalho franchisado, instalado na Junta de Freguesia ou num estabelecimento comercial. Não faltarão interessados…

Até à nacionalização da banca, o número de agências não chegava a 1.000, mas mais de 6.000 correspondentes asseguravam uma banca de proximidade autêntica, com atendimento que ia para além do horário de funcionamento dos bancos. A representação era oficializada com uma placa metálica onde se lia: «Correspondente do banco X».

Nas cidades mais povoadas, ainda poderá justificar-se a presença de duas ou três agências, mas dez balcões, encostados uns aos outros, são puro desperdício. Não há nenhuma razão que impeça um banco de ser correspondente de todos os outros; e os que não quiserem ser representados por um concorrente poderão optar pela nomeação de um agente.

Na era digital, um computador, uma impressora, um POS e uma ATM são suficientes para um atendimento de qualidade, havendo formas de regular a atividade dos franchisados, como ficou demonstrado com a experiência do Deutsche Bank. Os riscos para os clientes são virtualmente inexistentes, uma vez que as operações processadas pelo agente podem ser logo confirmadas numa ATM.

Claro que isto é mais fácil dizer que fazer – haja em conta o impacto no desemprego – mas a ‘roda’ está inventada, e países como o Canadá e a Austrália utilizam-na para servir populações que estão a 2.000 quilómetros do banco mais próximo. E o modelo já estaria implantado entre nós se o Banco de Portugal fosse mais do que a catedral da burocracia que não acrescenta valor, nem tem iniciativa para liderar uma transformação que requer visão de conjunto, ponderação e negociação, na dose certa para assegurar uma execução faseada, segura e humana. Foi assim com a extinção dos velhos correspondentes… quando eram outros os tempos, e outras as pessoas.

Enquanto este passo não for dado, o Dr. António Costa que se prepare para enfrentar a fúria dos populares e dos autarcas, de cada vez que o banco da terra feche portas. Não é preciso ser adivinho.