Liga das Nações. O plano B dá vertigens e dores de cabeça

Ao contrário do que havia acontecido em Milão, desta vez Portugal jogou aberto e virado para a frente, mas destapou a manta de tal forma que acabou por passar por calafrios sem necessidade. O empate final (1-1) frente à Polónia acabou por prejudicar… a Alemanha, que assim deixou de ser cabeça-de-série no sorteio do apuramento para…

Se este texto fosse escrito em 1998, dir-se-ia que o encontro desta terça-feira entre Portugal e Polónia tinha constituído um regresso à normalidade lusa, depois da muito menos normal exibição de sábado em Milão – o 0-0 conseguido em Itália deu para festejar, mas não apaga a noite de sufoco, especialmente na primeira parte, que a squadra azzurra provocou nos comandados de Fernando Santos. A questão essencial é que já estamos longe desses tempos em que a seleção nacional jogava na vertigem ofensiva, com fogo e requinte na frente mas problemas lá atrás que invariavelmente a afastavam das fases em que tudo se decidia: se há coisa que o reinado de Fernando Santos tem permitido perceber é esse corte radical com o passado.

O jogo desta terça-feira, todavia, deu laivos de um regresso a essas origens. Com o apuramento assegurado desde sábado, o selecionador fez vários ajustes no onze, permitindo o descanso a alguns elementos mais fatigados e dando o protagonismo a figuras habitualmente de segunda (e nalguns casos até terceira) linha. Beto, Kevin Rodrigues, Danilo, Raphael Guerreiro (a jogar a extremo), Renato Sanches e Rafa tiveram oportunidade de iniciar o encontro como titulares, com o médio do Bayern Munique a ser um dos elementos em maior destaque – foi dele, de resto, a assistência para o golo luso, num canto a que André Silva correspondeu da melhor forma.

Desta feita, todavia, Portugal esteve longe do pragmatismo e da filosofia de primeiro-defender-e-só-depois-pensar-em-marcar que tem caracterizado os anos com Fernando Santos ao leme. A seleção nacional atirou-se para a frente, apoiando-se nas correrias loucas de Renato e Cancelo e na criatividade e imprevisibilidade de Rafa e Raphael Guerreiro. Ao mesmo tempo, porém, os espaços deixados atrás eram mais que muitos e a Polónia, que já estava despromovida e nem tinha Lewandowski, lesionado, não enjeitava cada oportunidade para se lançar em contra-ataque – até porque Grosicki, Zielinski ou Milik também não são propriamente novatos nestas andanças.

 

Tão pouca lucidez… O primeiro susto surgiu logo aos nove minutos, com Beto a falhar o domínio e a passar in extremis para Pepe, perante a pressão de Milik (momentos antes, Renato Sanches havia ficado perto do golo, com o remate a esbarrar num colega). Aos 16’, dupla oportunidade para Frankowski, com Beto a defender por instinto à primeira e o extremo a atirar depois por cima – o lance, todavia, acabaria por ser anulado por mão do polaco antes do primeiro remate. Era mais um aviso, contudo.

Na toada de parada-resposta que marcava a primeira parte, Portugal acabaria por chegar ao golo aos 34’, no tal canto de Renato concluído por André Silva com um cabeceamento ao primeiro poste. Logo a seguir, uma falta por mão de Renato Sanches originou um livre lateral que por pouco não dava em golo: Kedziora cabeceou à trave. E no instante seguinte, só uma saída corajosa de Beto aos pés de Frankowski evitou o tento polaco.

Cheirava a empate em Guimarães, com Portugal a demonstrar dinâmica e muita vontade, mas uma estranha desorganização na transição defensiva. Aos 59’, foi Cancelo a tirar de cabeça em cima da linha, depois de um corte de Kevin Rodrigues que sobrevoou Beto e levava a bola a encaminhar-se caprichosamente para as redes lusas. Fernando Santos via o controlo do jogo a fugir drasticamente e trocou Raphael Guerreiro por João Mário, mas logo depois surgiu o penálti que daria o 1-1 à Polónia… duas vezes: um mau atraso de William Carvalho permitiu a Milik isolar-se e, já na cara de Beto, ser carregado por Danilo. Vermelho ao médio do FC Porto e grande penalidade para ser cobrada pelo avançado do Nápoles: à primeira, o árbitro russo Sergei Karasev mandou repetir; à segunda, Milik bateu exatamente da mesma forma, para a esquerda do guarda-redes português, e o golo contou mesmo.

Mexia o marcador mas tudo continuava igual: as duas equipas a atacar, mas os polacos com muito mais discernimento e agora com um elemento a mais. Aos 82’, uma grande estirada de Beto a impedir o golo de Zielinski – mais palmas, só para a entrada de Eder aos 87'. Portugal conseguiu, ainda assim, terminar a fase de grupos da Liga A como única equipa sem derrotas, ficando agora à espera do próximo dia 3 de dezembro para saber quem será o adversário nas meias-finais da final four, que se jogarão a 5 e 6 de junho do próximo ano no Porto e em Guimarães – a final, bem como o jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, está agendada para o dia 9. Além de Portugal, recorde-se, também Holanda, Suíça e Inglaterra estarão presentes nos jogos de todas as decisões.

Este empate, refira-se, causou ainda mais um amargo de boca para… a Alemanha. É que os germânicos precisavam de uma derrota polaca para manter a condição de cabeças-de-série no sorteio da fase de qualificação para o Euro 2020: se a Polónia pontuasse, subia ao pote 1, por troca com os alemães. E foi exatamente isso que se verificou: desta forma, a Mannschaft cai para o pote 2, sabendo de antemão que terá de enfrentar uma equipa do pote 1 no apuramento para o próximo Campeonato da Europa.