Foi uma sorte não haver mais mortes

Falar sobre Borba hoje em dia é falar sobre um fatídico acidente que enlutou o país. Numa altura em que deveria falar-se da Feira Anual de Vinhos que tanto prestigia o concelho, falamos de uma tragédia há muito anunciada em que só faltava saber o dia… Passei por lá há uns tempos. A estrada meteu-me…

Falar sobre Borba hoje em dia é falar sobre um fatídico acidente que enlutou o país. Numa altura em que deveria falar-se da Feira Anual de Vinhos que tanto prestigia o concelho, falamos de uma tragédia há muito anunciada em que só faltava saber o dia…

Passei por lá há uns tempos. A estrada meteu-me medo. Qualquer deslize na condução – e o salto de mais de 80 metros era muito provável. Como era possível manter assim uma estrada, fosse municipal ou nacional? Por que bulas esta estrada permanecia aberta ao trânsito, sabendo-se que existiam relatórios alertando para os seus riscos? Será que os inconvenientes do seu encerramento (obrigando a um desvio de uns meros 3 Km), assustaram quem tinha de decidir? Ou existiriam outros interesses, industriais ou comerciais, aos quais o encerramento causaria danos económicos?

Também por isso, subsiste o tema essencial que tem a ver com a vigilância ou manutenção das estradas. Não sejamos inocentes: os municípios têm escassez de recursos financeiros, e os que existem são habitualmente canalizados para obras visíveis, que tenham a vantagem de assegurar votos. Donde há que perguntar: quando foi feita a última inspeção pela Direção Geral de Energia e Minas? Segundo ouvi em reportagem da SIC, não houve resposta a esta questão absolutamente pertinente.

Em tempos idos estudei o tema das pedreiras por obrigações profissionais, e na respetiva legislação havia a obrigatoriedade de, após o seu encerramento, ser feita a recomposição ambiental do local. E esses custos tinham de ser avaliados e contabilizados. 

Pergunto: se havia pelo menos uma das pedreiras que estava abandonada, como foi dito, qual a razão para não ter sido objeto de obras visando a recomposição dos terrenos como estavam antes da exploração? Onde estava a fiscalização necessária? Se assim acontecesse, porventura o desastre que todos lamentamos (e poderia ter havido muito mais vítimas, basta pensar que ali passavam autocarros escolares) teria sido evitado.

Toda a gente diz lamentar o que se passou. Inclusive dou comigo, revoltado, a escrever sobre este desastre. Mas será que mais uma vez não vai haver culpados, sobretudo entre aqueles que ‘fecharam os olhos’ a relatórios que impunham o encerramento da estrada? Não há, para o Ministério Público, uns quantos responsáveis pelo crime de negligência com consequências mortais?

P.S. 1 – O Porto de Setúbal é um problema há anos. Novamente em ebulição por reivindicações laborais, serve um dos polos mais fundamentais da economia portuguesa: a Autoeuropa. Depois das greves inéditas nesta fábrica, com os prejuízos económicos que se conhecem e colocaram em risco o atual investimento no T-Roc, este levantamento dos precários vem reforçar o risco de futuros investimentos estrangeiros em Portugal. A precariedade é uma inevitabilidade nos tempos que correm, sobretudo em atividades em que a sazonalidade predomina e a sua existência é fundamental para fomentar o emprego. É certo que há precários que são empregados a tempo inteiro e que muita falta fazem nos quadros das empresas (ou Estado), criando-se situações de injustiça. Mas, nas circunstâncias atuais, pergunto: é melhor ter emprego precário ou enfrentar o desespero do desemprego?

P.S. 2 – Este interregno no futebol nacional com jogos da Seleção veio acalmar um pouco o ambiente crispado por problemas judiciais em série envolvendo dirigentes e adeptos. A Seleção qualificou-se para a fase final da Liga Europeia, como se desejava, mas os processos vão-se arrastando, demonstrando a necessidade de uma limpeza no futebol nacional. Com a moralização dos costumes e, sobretudo, a Justiça a atuar de forma célere e impiedosa para com os culpados, absolvendo os inocentes. A situação que se vive, com atores dos principais clubes a serem cozidos em lume brando, é que é não sustentável – pois inquina a credibilidade dos visados, quiçá injustamente. Também por isso, o ‘povo da bola’ pede celeridade nos processos, para voltar a acreditar na pureza do futebol.