Faltam remédios nas farmácias de todo o país | Infografia

Carlos Pinto, membro da comissão instaladora do partido Aliança, disse esta semana que faltam 45,1 milhões de medicamentos e voltou a trazer o problema da falta de fármacos para a atualidade.

Quem nunca ouviu histórias de pessoas, especialmente no interior, que vão uma e outra vez à farmácia e não conseguem encontrar o medicamento de que precisam? Essa velha questão voltou a marcar a semana, depois de Carlos Pinto, membro da comissão instaladora do novo partido Aliança, dizer que há «45,1 milhões de medicamentos em falta nas farmácias portuguesas, vários deles classificados como essenciais pela Organização Mundial de Saúde», na primeira conferência de imprensa do partido, na quarta-feira.

O SOL contactou o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. para tentar confirmar a veracidade da afirmação, mas a entidade não enviou respostas até ao fecho desta edição.

Contudo, o valor que o também ex-presidente da Câmara Municipal da Covilhã indicou é um dos dados que constam do último relatório do Observatório dos Medicamentos em Falta do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (Cefar) da Associação Nacional das Farmácias (ANF), referente aos primeiros nove meses de 2018 e divulgado em outubro. De acordo com o documento, consultado pelo SOL, nos primeiros nove meses deste ano foram mesmo 45,1 milhões de embalagens de fármacos que faltaram nas farmácias do país e o retrato piora quando o mesmo relatório dá conta de que, em relação ao período homólogo de 2017, as falhas aumentaram 28%.

 

Faltam originais e genéricos

O relatório mostra que é no interior que existem mais faltas. Em setembro, os distritos com mais farmácias com medicamentos em falta foram Bragança – 85,4 % – e  Vila Real – 84,1%. Seguiu-se Braga (78,9 %), Faro (73,7%), CasteloBranco (71,9%), Guarda (71,2%) e Coimbra (71,1%). Segundo o documento, das 2922 farmácias que existem no país, 1949 «reportaram pelo menos uma falta durante o mês de setembro de 2018», número que corresponde a 66,7% do total das farmácias. Nesse mesmo mês, num plano mais abrangente, «o número médio de embalagens em falta por farmácia cresceu 10,3% em relação a agosto de 2018». Quanto ao mês homólogo de 2017, também foi registado um aumento: 42,1 % foi a percentagem de medicamentos que faltou.

Quanto aos medicamentos que mais faltaram nas farmácias portuguesas durante o mês de setembro, a lista é encabeçada pela Aspirina GR 100 mg 30 comprimidos, com mais de 487 faltas. Seguiu-se a embalagem de 60 comprimidos do Sinemet 25/100 mg, que registou mais de 277 mil faltas e é receitado para doentes de Parkinson. Muito abaixo, em terceiro lugar, surge o fármaco Trajenta 5 mg (embalagem de 30 comprimidos), em relação ao qual se verificaram mais de 88 mil faltas nas farmácias portuguesas.

Na lista dos 100 medicamentos que mais faltaram, há quatro que constam da lista dos essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS). Se em relação à Aspirina (medicamento analgésico e antipirético) e ao Trajenta, vocacionado para a diabetes tipo 2, existem alternativas, o mesmo não se pode dizer do Sinemet, que esteve em rutura de stock no fabricante – mas em relação ao qual o Infarmed arranjou alternativas para colocar no mercado. Entretanto, no final de setembro, a presidente do Infarmed garantiu à TSF que a empresa fornecedora do medicamento estava «a conseguir colocar no mercado algumas embalagens».

As faltas afetam também os genéricos: o mesmo documento dá conta de que faltaram 1,66 milhões de embalagens de genéricos no mesmo mês no país. E além desses, no top 100  de medicamentos em falta durante esse mês, houve mesmo registo de quatro fármacos que integram a lista  dos medicamentos considerados «essenciais» pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

Em busca dos medicamentos

Os mais idosos são quem mais sofre quando o pior acontece e o stock dos medicamentos de que necessitam para a sua saúde chega ao fim na farmácia que costumam frequentar. A idas repetidas à farmácia na esperança de que o stock já tenha sido reposto segue-se – quando os farmacêuticos não conseguem prever a reposição de stock nem garantir fármacos alternativos – uma incursão pelas farmácias da região mais próximas. Quando nem essas apresentam solução, e à medida que o desespero cresce e os efeitos da ausência do medicamento são cada vez mais notórios, os idosos e as suas famílias acabam mesmo por ter de ir mais longe, a outros distritos.

E o SOL sabe que muitas vezes acabam por não conseguir. É o caso de um idoso de Oliveira do Hospital, diagnosticado com Parkinson. Com o Sinemet a acabar em casa, desde setembro que a família tem corrido as farmácias da região à procura do medicamento, mas as respostas têm sido apenas negativas.