Crimeia. Moscovo vai enviar mais sistemas anti-mísseis

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, avisou ontem que “a Ucrânia está sob a ameaça de uma guerra em grande escala com a Rússia”

Moscovo anunciou hoje o envio de mais sistemas anti-mísseis S-400 para a Crimeia, ao mesmo tempo que um jornalista da Reuters viu um navio de guerra russo deslocar-se para as águas próximas da península. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, avisou que a "Ucrânia está sob a ameaça de uma guerra em grande escala com a Rússia". As recentes movimentações militares russas parecem ter um caráter defensivo, ainda que enviem uma forte mensagem a Kiev e aos seus aliados da NATO. 

Espera-se que os sistemas fiquem operacionais até ao final do ano, segundo Vadim Astafyev, porta-voz do distrito militar do sul da Rússia, citado pela agência TASS. É provável, explica a Reuters, que o destacamento dos sistemas já estivesse planeado com antecedência e que o momento em que ocorre se destine a enviar uma mensagem clara aos Estados-membros da NATO e à Ucrânia: Moscovo está disponível para defender o seu território contra todas as ameaças. 

A decisão de deslocar os sistemas anti-mísseis surge num momento de crescente tensão entre a Ucrânia e a Rússia em torno da apreensão de três navios ucranianos pela marinha russa e detenção de 24 marinheiros ucranianos. Moscovo acusa a marinha ucraniana de ter entrado em águas territoriais russas, enquanto Kiev acusa Moscovo de "ato de agressão". 

Desde que a Crimeia foi anexada pela Rússia, em 2014, que esta tem usado significativos recursos militares para a transformar no que a imprensa internacional apelida de fortaleza militar. Antes desta decisão, a Crimeia já possuía três batalhões de sistemas anti-mísseis, que têm um alcance até 400 km, permitindo à Rússia controlar grande parte do céu sobre o Mar Negro. 

Além dos sistemas, o navio russo, o Vice-Almirante Zakharin, destacado para a Crimeia, é um draga-minas, segundo a Reuters. Tendo em conta que o episódio dos três navios ucranianos, é provável que o navio russo tenha a missão de colocar minas para evitar novos episódios. 

Recorde-se que à anexação seguiu-se um conflito no leste da Ucrânia, nomeadamente em Luhansk e Donetsk, entre as forças armadas ucranianas e rebeldes separatistas apoiados pela Rússia. Moscovo nunca admitiu a presença de forças militares oficiais no conflito, mas não negou a presença de muitos militares russos voluntários no terreno em apoio aos rebeldes. 

Todavia, as manobras para uma eventual escalada não surgem apenas do lado russo. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, decidiu avançar com a implementação do estado de emergência para os próximos trinta dias, com o parlamento a votar favoravelmente a sua proposta. Poroshenko defendeu que a medida é motivada pelo receio de uma invasão russa, mas, não obstante, surge a poucos meses de a Ucrânia ir a eleições, com o chefe de Estado a correr o risco de não ver o seu mandato renovado.

Ontem, o presidente ucraniano voltou a sublinhar o risco de uma escalada militar com a Rússia, alertando para o "aumento dramático" de forças russas na fronteira com o seu país. "Não quero que ninguém pense que isto é divertido e um jogo. A Ucrânia está sob a ameaça de uma guerra em grande escala com a Rússia", afirmou na televisão nacional ucraniana. 

Recorde-se que ontem um tribunal da Crimeia deliberou manter em detenção pré-julgamento pelo menos 12 dos 24 marinheiros. São acusados de atravessarem a fronteira russa ilegalmente e se a acusação se vier a provar em tribunal, os marinheiros poderão ser condenados a uma pena de prisão até seis anos, segundo um investigador citado pela agência russa TASS. 

Em consequência da escalada da tensão, há quem opte por apelos ao diálogo, mas também que prefira uma posição mais dura, defendendo novas e revigoradas sanções, a que se junta a possibilidade de a NATO começar a fornecer equipamento letar às forças armadas ucranianas – até ao momento apenas fornecia equipamento militar defensivo – para debelar o que considera ser uma ameaça russa. 

"Temos dito que estamos prontos para apoiar um aumento das sanções", afirmou o ministro da Defesa estónio, Juri Luik. E se a Polónia não quer avançar já com essa proposta, também não deixa de estar disponível para apoiar quem decidir avançar com ela. Caso existam essas iniciativas internacionais, como novas sanções, a Polónia participará, porque estamos prontos para todas as ações que levem à solução do conflito", disse o presidente polaco, Andrzej Duda. 

Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já avisou que poderá cancelar o seu encontro com o presidente russo, Vladimir Russo, na cimeira do G20, em Buenos Aires, Argentina, esta semana. "Talvez não tenhamos a reunião", disse Trump. "Não gosto dessa agressão. Não a quero de todo".