Costa fartou-se de querer casar com o BE…

De partido parasita da desgraça alheia a noiva, o BE já foi tudo para António Costa. Agora só serve para amigo

Quando revisitamos o álbum das fotos da nossa vida encontramos registos que já não nos lembrávamos, constatamos como envelhecemos e engordámos, nalguns casos, como é evidente, olhamos para os casamentos a que fomos, os divórcios a que assistimos, e constatamos, com muita tristeza, que desapareceram muitas pessoas.

No álbum da vida política a história é um pouco diferente, pois ao fazermos uma viagem ao passado ficamos um pouco chocados quando confrontamos o que certos personagens diziam antes e o que dizem hoje.

Nos últimos dias muito se tem falado no casamento e amizade de António Costa com Catarina Martins, leia-se PS/BE, mas as picardias de hoje são muito mais engraçadas se enquadradas com o passado. Se não vejamos: «O BE é um partido oportunista que parasita a desgraça alheia e é incapaz de assumir responsabilidades», a frase foi dita em finais de fevereiro de 2009 e o seu autor era então uma espécie de capataz de José Sócrates. Mas António Costa explicava por que desejava que o BE pensasse de maneira diferente: «O PS quer a maioria absoluta para prosseguir a modernização do país» e para isso achava que o BE podia ajudar. Dois anos depois, Costa voltava a atacar o Bloco de Esquerda no seu programa televisivo Quadratura do Círculo, onde afirmou que o BE se tornou um «partido inútil» que não queria fazer parte da solução – governativa, calcula-se – e que não passava de uma agremiação que se limitava a protestar. «O Bloco não existe em sítio nenhum, não existe nas estruturas sindicais nem no poder local. Não existe», comentava um António Costa muito mais novo. Mas ia mais longe: «Não acrescenta nada ao PCP». É fácil perceber que António Costa se comportava como alguém que queria casar mas não era correspondido e, por isso, à boa maneira lusa, atacava a noiva sem dó nem piedade. Digamos que é o chamado mau perder, para não dizer outra coisa relacionada com dor.
Mas tudo mudou em 2015 depois de se saberem os resultados das legislativas. O PSD e o CDS, apesar de um programa de austeridade que não poupou famílias, empresas e animais, acabaram por ter mais votos do que António Costa mas não alcançaram a maioria. Vai daí, Costa, que uns tempos antes tinha corrido com António José Seguro por causa de uma vitória «poucachinha», pensou que a antiga namorada, que nunca se quisera casar, poderia aceitar a união de facto se ele lhe desse um presente irrecusável. A mostrar a sua modernidade, Costa até entrou numa ménage à trois, convidando o PCP para a geringonça.

Com mais zangas ou provocações, a geringonça lá tem andado ao sabor das vitórias de cada um dos partidos que a compõem. Mas António Costa, como é sabido, não se esquece dos seus amigos mas muito menos dos seus inimigos, e como acha que vai conseguir a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas já fez saber que com o BE «dá para ser amigo, mas não dá para casar». Já o rapaziado bloquista está com os cabelas em pé, assim mesmo de acordo com a linguagem intrusiva, porque queria subir ao altar, pois está farto da união de facto. «Para nós não dá para casar com o Eurogrupo», respondeu candidamente Luís Fazenda do Bloco. O BE e o PCP ainda não perceberam que António Costa esteve a rever o filme de 2009 e que chegou à seguinte conclusão: «O PS quer a maioria absoluta para prosseguir a modernização do país». Com a geringonça, pelos vistos não o consegue.

vitor.rainho@sol.pt