As más sondagens do PSD

Rui Rio tem dois desafios. O primeiro chama-se Lisboa. O segundo chama-se Porto

Concentro-me na sondagem que decompõe as intenções de voto no PSD por áreas geográficas.

Segundo a Eurosondagem, o PSD vale 27.9% no Norte, 16.8% na área metropolitana do Porto, 28.7% no Centro, 12.2% na área metropolitana de Lisboa, e 11.9% no Sul.

Fui repescar o que já tinha escrito sobre o tema, perdoem-me a imodéstia. Foi aqui publicado no dia 17 de fevereiro de 2018 e chamava-se O congresso autárquico de Rui Rio. Rezava assim: 

«Rui Rio tem dois desafios. O primeiro chama-se Lisboa. O segundo chama-se Porto. 

[…] Metade da população portuguesa vive em quatro distritos: Lisboa, Porto, Setúbal e Braga. Vejamos quais são os municípios, por ordem decrescente de habitantes, de acordo com o censo de 2011. No distrito de Lisboa, são dez: Lisboa, Sintra, Cascais, Loures, Amadora, Odivelas, Vila Franca de Xira, Torres Vedras e Mafra.

No distrito do Porto, são catorze: Vila Nova de Gaia, do Porto, Matosinhos, Gondomar, Maia, Valongo, Paredes, Vila do Conde, Penafiel, Santo Tirso, Póvoa de Varzim, Felgueiras, Paços de Ferreira e Amarante. 

Juntemos o distrito de Setúbal, com seis municípios: Almada, Seixal, Setúbal, Barreiro, Moita e Palmela.

E, por fim, o distrito de Braga, com quatro municípios: Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos.

Estes quatro distritos — Lisboa, Setúbal, Porto e Braga — têm 5.033.705 pessoas, para um total de 10.562.178 portugueses. Esta revolução demográfica determina necessariamente o que o PSD tem de ser. Tem de ser forçosamente um partido urbano, sob pena de se extinguir, como Rui Rio assinalou. 

Rio, durante a campanha, identificou bem o problema da falta de implantação autárquica do PSD nos grandes centros urbanos. E foi mais longe quando disse que, sem essa implantação autárquica, o PSD não ganha eleições legislativas. A total subalternização das eleições autárquicas foi, do meu ponto de vista, o maior erro político de Passos Coelho, já que culminou com o pior resultado de sempre em Lisboa e no Porto. 

A situação de Lisboa é absolutamente penosa, com o PSD a ser a quarta força política na cidade, atrás do PS e do BE (no executivo) e atrás do CDS. Ora, em Lisboa, como é bom de ver, ninguém salta de uns pavorosos 11% (nas autárquicas de outubro de 2017) para uma vitória nas europeias, ou uma maioria absoluta nas legislativas de 2019. 

O grande desafio de Rui Rio é, por isso, ser consequente com o que disse em campanha. Começar logo a trabalhar o PSD nas autarquias de Lisboa e do Porto. A demografia é um adversário muito mais poderoso do que o PS». 

Os passistas têm motivos de vergonha com estes resultados, já que Passos Coelho foi presidente do PSD entre abril de 2010 e janeiro de 2018, e fez duas eleições autárquicas. Mas Rui Rio também se deve envergonhar com as últimas sondagens, porque nas áreas urbanas do Porto e de Lisboa fez zero para recuperar o partido. 

 

sofiarocha@sol.pt