38 anos depois de Camarate. Pensar em Sá Carneiro é pensar nos que “colocaram a pátria acima de tudo”

O Presidente da República faz paralelismo entre a recusa de Sá Carneiro em utilizar o “sentimento na política” com o crescimento do populismo em diferentes países da Europa

Há 38 anos, no dia 4 de dezembro, o avião em que o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, viajavam, em direção a Pedra Rubras, no Porto, sofreu uma falha técnica e despenhou-se em Camarate. Este ano, Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio e Santana Lopes marcaram presença na missa evocativa que se realizou na Basílica da Estrela, enquanto Assunção Cristas participou na homenagem a um dos fundadores do CDS no Palácio de Cristal, no Porto.

“Pensar em Francisco Sá Carneiro, como em Adelino Amaro da Costa, é pensarmos naqueles que se bateram por ideias, por causas, que colocaram a pátria acima de tudo o resto e que recusavam a facilidade, a banalização, a utilização do sentimento na política, como infelizmente vai aparecendo tanto nesses países à nossa volta”, disse o Presidente da República aos jornalistas no final da homenagem.

Já Assunção Cristas lembrou a “coragem” para uma “reforma moderada” que Adelino Amaro da Costa, um dos fundadores do CDS, representava na sua luta pela “liberdade”. “Na altura, queria dizer muita coragem para afirmar um caminho alternativo ao socialismo”, reforçou a líder dos centristas.

“Temos neste momento um governo socialista ancorado nas esquerdas mais radicais do nosso país – o PCP e o BE. Pugnamos, no CDS, por uma alternativa a esta união das esquerdas, que não nos leva para caminhos de mais prosperidade e de reformas moderadas de que o país tanto precisa”, disse Assunção Cristas.

Também o líder do PSD recordou que o antigo primeiro-ministro era “o expoente máximo do antipopulismo, da seriedade da frontalidade, da clareza” e destacando que Sá Carneiro “nunca foi atrás do politicamente correto, da espuma dos dias”. “Sá Carneiro simboliza o contrário do muito que está a acontecer hoje na Europa e há de chegar a Portugal mais dia, menos dia, se nós não tivermos cuidado”, alertou Rui Rio.

O antigo autarca tinha também participado num evento de homenagem a um dos fundadores do PPD/PSD esta segunda-feira que se realizou no Porto. Durante o discurso, o líder do PSD enalteceu a importância do regresso do antigo primeiro-ministro: “Ouço muitas vezes dizer que isto da forma que está só lá ia com dez Salazares. Pois eu digo, cinco Sá Carneiros e nós resolvíamos isto, não eram precisos dez Salazares”, disse.

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Também o antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão fez um discurso afirmando que os partidos necessitam de “atualizar-se, mostrar que não existem para servir clientelas, ser capazes de atrair não apenas os abstencionistas em geral, mas, dentro destes, gente mais nova, que tome paulatinamente as rédeas do poder e demonstre que está na política para lutar pelos valores essenciais da democracia”. O presidente do grupo Impresa destacou ainda a necessidade de elaborar “grandes, urgentes, profundas e duradouras reformas na Justiça, na Educação, na Saúde, na Administração Pública, sobe a égide e corresponsabilização do Presidente da República”.

Marcelo condecora António Patrício Gouveia

Outra das vítimas do acidente foi o chefe de gabinete do primeiro-ministro, António Patrício Gouveia, um dos fundadores do PPD/PSD. Marcelo Rebelo de Sousa condecorou Gouveia na passada quarta-feira, data em que celebrava o 70.º aniversário.

A homenagem foi organizada pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, onde António Patrício Gouveia estudou, e contou com a atribuição, a título póstumo, do grau de grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República.

Há 38 anos, o avião onde seguiam Sá Carneiro, Adelino Amaro e Costa e outros três passageiros, incluindo António Patrício Gouveia, despenhou-se na zona de Camarate, a norte de Lisboa. Foram formadas várias comissões de inquérito e ainda hoje existem muitas dúvidas em relação às causas da queda da aeronave.