O ‘suicídio’ assistido do PSD…

Se o PSD tivesse um verdadeiro líder, nem Costa se teria ausentado nem Marcelo andaria com o Governo ao colo

Instalou-se o  reboliço no PSD. E é improvável que se encontre melhor definição para o que está a passar-se no partido, desde que é liderado por Rui Rio, do que a frase de Manuel Castro Almeida (por acaso, um dos vice-presidentes) ao admitir que os sociais- democratas correm o risco de cair num «suicídio coletivo».

Tem razão, mas não pelas razões que aponta. Para ele, o problema do declínio do partido, como força de oposição, é interno e reside no «clima de divisão, confrontação e hostilidade excessivo». Com falsa humildade, veio pedir «tréguas», quando o que se passa é a consequência de um comportamento frouxo, amorfo ou de deliberada renúncia ao papel que lhe caberia como maior partido parlamentar. 

O atual PSD permitiu, sem a menor crítica, que a ‘geringonça’ capturasse paulatinamente o país, ‘caucionada’  pelo Presidente da República, que aparece como um aliado objetivo de António Costa, a ponto de ser já visto como o melhor ‘ministro’ do Governo…

A amarga ironia está no facto de Marcelo Rebelo de Sousa, antigo líder social-democrata, se ter aproximado tanto das esquerdas que estas se confundem com ele, beneficiando da sua popularidade. 

Há bem pouco tempo assistiu-se, aliás, a um ‘ruidoso silêncio’ que é muito simbólico.    

Por estranho que pareça, não ocorreu a Marcelo uma palavra evocativa do 25 de Novembro de 1975, uma data emblemática que merecia ser sempre celebrada, também por ter restituído a liberdade de imprensa e a dignidade aos jornalistas, que voltaram a escrever sem a Censura por perto – que foi oficial até ao 25 de Abril e oficiosa depois, comandada pelo PCP. E, no entanto, Marcelo era à época subdiretor do Expresso…

É uma data banida pelos comunistas do PCP e do Bloco (agregador de movimentos de extrema-esquerda que então vicejavam), com o consentimento e compadrio do PS, que já esqueceu a luta de Mário Soares contra os totalitarismos estalinistas, que hoje incorporam a ‘geringonça’.  

Teria ficado bem ao Presidente, até para marcar distâncias em relação à tenaz que as esquerdas vão apertando à sua volta, que distinguisse esse marco que pôs termo ao sufoco do jornalismo, no quadro das suas preocupações com o estado de falência da maioria dos media.

Mas não. Marcelo identificou, perante um auditório de jornalistas, uma «situação de emergência» nos meios de comunicação social portugueses, que «já constitui um problema democrático e de regime», e interrogou-se sobre se «o Estado não tem a obrigação de intervir?».

A resposta é obviamente negativa, não obstante a declaração presidencial ter excitado algumas boas almas, que teimam em não perceber (nem ‘reverter’) o plano inclinado das suas empresas.

Os mais ‘velhinhos’, parafraseando o Presidente, poderão elucidar esses inquietos gestores sobre o que foi a imprensa estatizada de má memória… 

Marcelo sabe instintivamente que o caminho mais curto e tranquilo para um segundo mandato é ser um ‘biombo’ útil às esquerdas, que controlam os descontentamentos e influenciam as redações.  

Por isso, o Presidente caminha de braço dado com a coligação governativa, que lhe deve, em boa medida, a sobrevivência.

Claro que se o PSD tivesse um verdadeiro líder, com nervo e sem ‘papas na língua’, nem Costa se teria ausentado nos momentos críticos, como se atreveu, nem Marcelo andaria com o Governo ‘ao colo’, como profissão de fé, ‘salvando-o’ em não poucas aflições. 

A lista de ocorrências é vasta. Em quase todas, o atual líder do PSD ficou mudo e quedo, ou apareceu quando já tudo estava consumado. 

A pretexto de desempenhar uma ‘oposição responsável’, Rui Rio converteu-se numa irrelevância para António Costa, desmentindo os predicados que Francisco Balsemão lhe atribuiu quando o desafiou, insistentemente, a montar o ‘cavalo do poder’. Enganou-se. O fundador e militante n.º 1 do PSD apostou no ‘cavalo’ errado. Foi pena e não é inédito. 

O equívoco, porém, pode provocar, desta vez, o definhamento eleitoral do PSD e o regresso do PS a um poder absoluto – que convoca, inevitavelmente, as sombras do ‘reinado’ de José Sócrates, aliás com ramificações ativas neste Governo, enquanto o ex-primeiro-ministro se passeia na Ericeira, confiado em que a Justiça seja cega e não o mace muito mais.

É uma pena, mas faltam a Rio o jeito, o talento e a vontade de ser oposição. Por isso, a sua ‘entourage’ já encena (des)culpas internas  para o desastre eleitoral  anunciado.  

O PSD tem no seu histórico outros ‘erros de casting’. Mas nenhum esteve tão perto de afundar o partido como Rui Rio. É obra. 

A ‘laranja mecânica’ enferrujou. Consumado o ‘suicídio coletivo’ (e assistido…) no PSD, Costa não poderá pedir mais à sorte.