Cinco mortos em ataque a igreja de Campinas

O atentado ocorreu numa altura em que o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, quer discutir a revogação do Estatuto do Desarmamento

Quatro pessoas foram mortas ontem a tiro na catedral de Campinas, município do estado de São Paulo, por um homem que acabaria por se suicidar depois da intervenção da polícia. As vítimas, três homens e uma mulher, foram baleadas no final da missa das 12h15. 

Testemunhas dizem que um homem com uma camisa azul e jeans estava sentado em silêncio, quando, de súbito, se levantou, efetuou os disparos e logo a seguir pôs fim à sua própria vida. O autor dos disparos foi identificado como Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, um analista de sistemas sem antecedentes criminais. Segundo a policia militar tinha consigo uma pistola de 9 mm e dois carregadores. A razão do crime é desconhecida, mas o atirador, que não tinha antecedentes criminais, já tinha apresentado duas queixas na polícia, uma delas por perseguição.

Quatro outras pessoas ficaram feridas, tendo sido levadas para o hospital. Foram sujeitas a cirurgia para retirar os projéteis e estabilizar o seu quadro clínico.

Uma funcionária da catedral, Terezinha Pereira dos Reis, diz que o incidente ocorreu no final da missa. “Estava saindo apara almoçar e escutei muitos tiros”, afirmou. “O pessoal estava cantando e algumas pessoas ainda estavam dentro da catedral”. Um elemento das forças policiais diz que pessoas idosas foram atingidas na cabeça e no pescoço. “Tem uma senhora de 60 anos, caída morta em frente à sacristia”, disse.

Em comunicado, a arquidiocese de Campinas lamentou o sucedido, diz que ainda desconhece a motivação do ataque e pediu “as orações de todos neste momento de profunda dor”. 

Este tiroteio surge numa altura em que a eleição de Jair Bolsonaro abriu a discussão sobre o acesso às armas no país. O presidente eleito do Brasil afirma que “a arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade” e é favorável à revogação do Estatuto do Desarmamento, promulgado pelo governo de Lula em 2003, Este conjunto de leis proíbe o porte de armas por civis, com exceção dos casos com necessidade comprovada. Especialistas calculam que a promulgação desta lei tenha evitado 160.036 mortes desde 2003.

No entanto, o deputado Alberto Fraga, líder da bancada da segurança pública, conhecida como a bancada da bala, garante que o presidente assumiu o compromisso de abordar o assunto ainda este ano. Esta posição garante a Bolsonaro o apoio da Taurus, a maior fabricante de armas do país e uma das três maiores do mundo em armamento ligeiro.

A empresa, que tem praticamente o monopólio do mercado no Brasil, é responsável pelo material bélico das forças policiais e militares, e viu as suas ações subirem mais de 500% durante a campanha. Agora as ações voltaram a um valor próximo do normal, com Bolsonaro a anunciar medidas que ampliam a concorrência de outras multinacionais do setor. Desde a sua eleição que fabricantes de armas como a Glock (Áustria), Ruach (Suíça), CZ (República Checa) e Caracal (Emirados Árabes Unidos) estão a negociar a entrada no mercado brasileiro. 

Paulo Humberto Barbosa, representante da Caracal, afirmou que se reuniu com Bolsonaro em 2017 e não esconde o seu apreço. “O PT é desarmamentista”, diz, “com Bolsonaro teremos uma satisfação maior de atuar no Brasil porque ele é um defensor do direito de pessoas de bem terem armas”, afirma. “A tendência é que aumente a procura por armas no Brasil. É um cenário promissor”.