2018 ficará marcado em Portugal como o ano com mais mortes de sempre

Em causa está o envelhecimento da população e os fenómenos climatéricos extremos

2018 será o ano com mais mortes de sempre em Portugal. Segundo os certificados de óbito emitidos até à última segunda-feira, este ano já morreram 108 mil pessoas.

Até ao final de novembro, tinham morrido 104.882 pessoas no país desde o início do ano. Só nos primeiros dez dias de dezembro registaram-se mais 3042 óbitos, um resultado que ultrapassa qualquer ano anterior a 2015.

A três semanas do final de dezembro e tendo em conta as médias deste mês, os óbitos registados serão suficientes para ultrapassar o ano de 2016 – até agora o ano com mais mortes de sempre (110.573).

Este é o resultado do envelhecimento da população, e de fenómenos como ondas de calor no verão e não um aumento do risco de mortalidade.

“Pode parecer contraditório e até chocante à primeira vista, mas o aumento no número absoluto de óbitos que decorre do envelhecimento da população significa que a sociedade portuguesa progrediu em termos de qualidade vida”, explica Maria João Valente Rosa, a diretora do Pordata, citada pelo Diário de Notícias.

"O envelhecimento da população é um facto, veio para ficar e é pelas melhores causas, é porque conquistámos espaço à morte", acrescenta.

Também os fenómenos climatéricos extremos são um risco para a população idosa. Este ano, nos dias 5 e 6 de agosto, dias em que ocorreu uma onda de calor, foram os dois dias com mais óbitos dos últimos dez anos, registando-se cerca de mil mortos.

Mas Portugal não é casa único. Segundo o El País, em Espanha, também os primeiros meses de 2018 trouxeram um recorde de mortalidade ao país.

A diretora da Pordata refere que este dados não devem ser dramatizados, mas sim levar a uma reflexão do sistema, sobretudo na área da saúde e da segurança social.

"Na Saúde porque temos de repensar um sistema demasiado centrados nos hospitais, nas urgências", diz Maria João Valente Rosa, que defende "cuidados mais de proximidade, para responder a pessoas cada vez mais com doenças crónicas, com doenças degenerativas e com menos mobilidade. A responsável acrescenta ainda que as zonas do interior, as mais enevelhecidas e desertificadas, são também aquelas onde muitas vezes os hospitais “não estão logo ali à mão”.

Na Segurança Social, o problema surge na sustentabilidade do sistema de pensões já a médio prazo.

"Podemos ter, por exemplo, uma reforma a tempo parcial, acumulada com um trabalho, o que permite também que quem está em idade ativa tenha uma carga de trabalho menos intensa e tempo para formação ao longo da vida, porque a formação não pode parar aos 20 anos, e para estar com os filhos. O critério cronológico não faz sentido, não podemos afastar estas pessoas mais velhas e temos de valorizá-las, a atribuição de funções tem de ser feita em função do seu mérito e não da sua idade", afirma.