O orçamento do despesismo

Sem qualquer surpresa o último orçamento da legislatura desta geringonça foi aprovado.

O governo minoritário socialista dispões, para o efeito, da benevolência e conivência daqueles que se constituem como os seus maiores adversários fora dos corredores nos quais se passeiam os deputados da Nação, quando estes se dignam comparecer no local de trabalho.

Na verdade comunistas e bloquistas encontram-se, quase sempre, na primeira linha da contestação social às políticas levadas a cabo pelo governo que suportam, incentivando greves em praticamente todos os serviços que prestam apoio às populações e nas empresas mais produtivas e organizando e participando em manifestações públicas, em muitas das quais se exige a demissão do executivo.

Os amigos do Costa são assim: na rua e sempre que se posicionam em frente às câmaras televisivas fazem-lhe frente, mas no parlamento permitem que ele insista em desbaratar o erário através de uma governação despesista.

Trata-se de amigos que contestam abertamente a esmagadora maioria das medidas adoptadas nos vários ministérios, mas que se apropriam da autoria daquelas, poucas, nas quais vislumbram um contributo para a melhoria das condições de vida das pessoas.

Amigos da onça para o que lhes convém, amigos do coração quando está em causa a sobrevivência da geringonça!

Também sem qualquer surpresa, porque se trata do orçamento que vai gerir as finanças públicas em ano eleitoral, vamos assistir a um novo agravamento da dívida pública e a mais um aumento da carga fiscal que há muito atrofia as famílias portuguesas.

Costa aprendeu sabiamente com Sócrates, de quem foi o primeiro cúmplice no rumo traçado que levou à falência do Estado.

Agora, tal como Sócrates fez no último ano do seu mandato inicial, também Costa aposta na distribuição de migalhas com o único fim de cativar o eleitorado, para que este lhe dê o que lhe escapou nas anteriores eleições legislativas: a vitória nas urnas!

Com Sócrates é do conhecimento geral o resultado a que conduziram as  suas políticas eleitoralistas. Com Costa, se persistir no mesmo caminho, nada nos poderá salvar de um novo resgate financeiro e, consequentemente, da perda parcial da nossa soberania para os mercados internacionais.

Para os mais cépticos e ingénuos, que se recusam a detectar um acréscimo desmedido da despesa pública neste orçamento, refiro aqui apenas dois exemplos, entre muitos outros, bem elucidativos do que é desbaratar dinheiro que não nos pertence.

O primeiro diz respeito aos manuais escolares supostamente gratuitos para o ensino público.

Mentira! Não existe qualquer tipo de gratuidade nesta medida.

O Estado, como bem sabemos, não produz riqueza, logo não é possuidor dos fundos monetários que tem à sua responsabilidade, mas sim gere-os, sendo estes pertença dos contribuintes.

Ou seja, é aos contribuintes que vão ser sacadas as verbas necessárias para alimentar esta ilusão.

É verdade que os alunos do ensino público não vão pagar nada por estes manuais. Pois não, são os seus pais que o irão fazer. E os pais dos alunos do ensino privado. E os pais cujos filhos ainda ou já não estudam. E aqueles que não têm filhos!

Somos todos nós, os que através do seu trabalho sustentam o Estado, que vamos pagar mais este desvario de um executivo cuja única preocupação é governar para vencer as eleições que se avizinham, nem que para o efeito se hipoteque o futuro das gerações vindouras.

A segunda fraude relaciona-se com o passe único para os transportes públicos das áreas metropolitanas de Lisboa  e do Porto e com a permissão das crianças até aos 12 anos viajarem de borla.

O governo dispõe-se a financiar esta benesse, ou melhor dizendo, mais uma vez serão os contribuintes a chegar à frente e suportarem este gasto excessivo para as nossas posses.

E as populações que residem por esse país fora, que não nas suas duas principais cidades, não terão direito a esta mais-valia, bem pelo contrário, vão contribuir, com o  que lhes é retirado do seu salário, para que lisboetas e portuenses usufruam de uma regalia que a eles lhes é negada.

Costa tem-se revelado um hábil manipulador e detentor de uma inegável capacidade de sobrevivência política. Esse mérito, ou demérito, considerando-se estar em causa o interesse nacional, não lhe pode ser escamoteado.

Quando menos se espera lá está ele a recorrer a mais uma inteligente jogada para a prossecução do seu objectivo primário, que é o de se perpetuar no poder.

Daí este piscar de olhos aos eleitores das áreas metropolitanas mais densamente povoadas do território lusitano. Eleitor este que se destaca dos restantes por ser menos conservador nos hábitos, razão pela qual oferece um voto mais volúvel.

Quem conquistar o eleitorado da grande Lisboa e do grande Porto conquista o País.

Costa sabe-o, como ninguém, sendo à luz desta realidade que deve ser interpretada esta nova política orçamental para os transportes públicos.

É fácil fazer-se brilharetes com o dinheiro dos outros!

Costa não quis despedir-se do debate do orçamento sem antes fazer recurso, uma vez mais, da arte da demagogia, da qual é reconhecidamente especialista, ao procurar vender-nos a ideia de que Portugal, graças à sua superior inteligência, saldou uma das dívidas contraídas quando nos ajoelhámos às imposições da banca alemã, representada por três instituições financeiras internacionais, vulgo troika.

Mais uma pura ilusão: pagámos ao FMI o que devíamos, é certo, mas para o efeito contraímos um novo empréstimo, do qual ficámos devedores.

É exactamente o que acontece quando devemos uma elevada quantia monetária a um amigo e a determinada altura ele vem reclamar a sua devolução. Como não dispomos de fundos que nos permitam saldar a dívida que nos é exigida, pedimos esse dinheiro emprestado a um outro amigo e devolvemos ao primeiro tudo quanto devíamos.

Resolvemos o problema do nosso amigo mas não o nosso. Pelo contrário, agravámo-lo!

É isto que estes políticos da abrilada se têm entretido a fazer ao longo das últimas décadas: para alimentarem o gigantesco polvo estatal que criaram vão contraindo empréstimos atrás de empréstimos, engrossando cada vez mais a dívida que um dia terá que ser paga, não por eles, obviamente, fazendo com que o Estado deixe de existir para servir as pessoas, mas sim para ser por estas servido.

Todos os políticos, sem excepção, têm bebido na escola de Sócrates, que enunciou o princípio de que a dívida pública não se paga, mas sim, gere-se.

Que se lixem aqueles que lhes sucederem na condução dos destinos deste cada vez mais empobrecido e mendigo Portugal.

 

PS: Armando Vara, assim que viu esgotar-se o último recurso que lhe adiava o percurso até à cadeia, foi entrevistado, em horário nobre, por uma estação de televisão em canal aberto.

Esta televisão, que tem a obrigação moral de exercer um papel didáctico perante a sociedade, prestou-se a um deplorável serviço, permitindo-se dar tempo de antena a um delinquente confesso, para que este pudesse, livremente, ofender a honra e a honorabilidade de quem impediu que os seus crimes permanecessem impunes.

O direito à presunção da inocência esgota-se com a sentença transitada em julgado. Vara não é mais um eventual autor de delitos criminais, mas sim um criminoso condenado pela justiça.

Haja limites para a estupidez humana!

por Pedro Ochôa