Pais denunciam praxes violentas a alunos do 1º ano da Escola Naval

“Não quero chorar a morte do meu filho”

Pais de alunos do 1º ano da Escola Naval (EN) estão a denunciar alegadas praxes violentas contra os filhos, avança o Diário de Notícias.

Uma mãe, sob anonimato, para evitar represálias sobre o filho, relata ao mesmo jornal que os alunos andam por vários minutos com “sacos amarrados na cabeça”, são deixados “nus na parada” e objeto de “tortura de sono”.

Também através das redes sociais, um pai, sob o nome de Mário Antunes, publicou uma carta aberta onde denuncia que "os alunos são privados do sono, dormindo uma média de seis horas por semana", "adormecem nos testes e […] sendo raro os que conseguem tirar positivas".

"Como é que [o meu filho] pode estar concentrado nas aulas, como pode tirar boas notas? Não sei a quem é que devo dirigir-me neste momento. Somos pessoas humildes, lutamos e incentivamos os filhos a serem pessoas bem formadas, a respeitar os outros… mas o meu filho é desrespeitado e humilhado por alunos mais velhos", refere a mãe.

Segundo o DN, o porta-voz da Marinha, comandante Pereira da Fonseca, afirma que "não se concluiu haver qualquer indício de práticas contrárias" às regras estabelecidas.

"Não são toleradas práticas de praxe" na Escola Naval, garante o comandante Pereira da Fonseca, acrescentando que os 63 cadetes do primeiro ano – dos quais 13 são raparigas – "são enquadrados por um conjunto selecionado de alunos do 4.º ano, que partilham o alojamento e os apoiam na integração na vida da EN e no seu sucesso escolar".

Contudo, o porta-voz da Marinha garante que, "o comandante da EN, de forma preventiva, deu ainda orientações para restringir o contacto entre os alunos do 1.º ano e dos restantes anos ao estritamente necessário no quadro das atividades académicas ou desportivas normais”.

A mãe garante ainda que o filho tentou tirar fotografias para provar as acusações, mas estas foram sempre eliminadas, já que os telemóveis dos cadetes "são vistos" com frequência e "o direito de privacidade não existe".

"Não quero chorar a morte do meu filho, como as mães dos [recrutas] comandos" falecidos no início do curso em setembro de 2016, "não quero passar pelo que passaram os pais" de seis estudantes que, em 2013, morreram durante as praxes realizadas na praia do Meco, declarou a mãe.

Citados pelo DN, vários oficiais da Marinha referiram que a componente psicológica é a componente mais dura a que os cadetes estão sujeitos quando entram na EN e que nem todos conseguem lidar com esses desafios. As mesmas fontes dizem ainda que houve anos em que as praxes foram banidas e que alguns alunos vão para a EN por pressão dos pais, sendo que muitas vezes tendem a empolar algumas situações de forma a sair.

Segundo o porta-voz da Marinha, nenhum dos 63 alunos que entraram este ano na Escola Naval desistiu ou pediu para o fazer.