Tavares quer João Ermida chairman do Montepio

O nome chegou a ser apontado para CEO, mas foi recusado pelo regulador. Ermida está afastado da banca desde 2003 e confessa falar ‘com Deus’ e ‘com Nossa Senhora’

João Ermida é o nome proposto pelo presidente da Caixa Económica Montepio para chairman da instituição financeira, apurou o SOL. Este nome já foi falado em reuniões entre Carlos Tavares e o Banco de Portugal (BdP). O SOL sabe que Ermida já tinha sido sugerido pelo ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários para CEO do banco, mas foi recusado pelo regulador (sendo que ele passaria só a chairman). Mas, face à recusa, Carlos Tavares optou por inverter as funções e manter-se como presidente do banco e tentar nomear João Ermida chairman. 

Esta é a solução encontrada pelo atual presidente do Montepio para resolver o problema de acumulação de funções, já que o Banco de Portugal deu até ao dia 20 de janeiro para ser nomeado um novo responsável. No entanto, tal como o SOL apurou, é uma escolha que está longe de ser pacífica junto do regulador, que poderá colocar entraves a esta nomeação.

Os dois conheceram-se no Santander Totta, quando João Ermida era chefe de tesouraria, cargo que ocupou até 2003, e Carlos Tavares era administrador da instituição financeira. No entanto, o SOL sabe que, desde essa altura, o nome agora proposto para ir para o Montepio não exerce funções na banca. 

 Recorde-se que Carlos Tavares acumulou desde o início do seu mandato o cargo de CEO e de chairman. A medida temporária surgiu depois de o Banco de Portugal ter recusado o o nome de Nuno Mota Pinto para o lugar de CEO, mantendo-o no entanto na lista de órgãos sociais, onde desempenha a função de administrador executivo. O supervisor justificou com a falta de experiência na administração de bancos de retalho. Nuno Mota Pinto foi administrador do Banco Mundial.

O prazo para o fim da duplicações de funções terminava em setembro, mas Carlos Tavares pediu ao regulador para prorrogar o prazo por quatro meses. Um pedido  aceite pela entidade liderada por Carlos Costa, prazo esse que termina a 20 de janeiro. Durante esse período, o nome de Álvaro Nascimento chegou a estar em cima da mesa. Mas o SOL sabe que não foi possível chegar a consenso na Associação Mutualista. 

A experiência na banca – tinha sido chairman da Caixa Geral de Depósitos entre 2013 e 2016, após a saída de Faria de Oliveira – de Álvaro Nascimento não foi suficiente para convencer a dona do Montepio, uma vez que este tinha sido uma das vozes críticas dos créditos fiscais de que a Mutualista beneficiou em 2017. Em causa estão lucros de 587,5 milhões de euros, bem acima dos 7,4 milhões de euros registados em 2016, passando a ter capitais próprios positivos. As contas da Associação Mutualista Montepio beneficiaram do impacto de ativos por impostos diferidos superiores a 800 milhões de euros.

Também Álvaro Nascimento pertence ao ciclo próximo de Carlos Tavares, já que os dois se tinham cruzado no banco público. O presidente do Montepio era vice-presidente da CGD quando Álvaro Nascimento foi chairman.

Ligação a Deus

João Ermida confessou numa entrevista à Visão, em 2017, que tinha abandonado em 2003 um lugar de sonho na banca, quando as práticas já não lhe agradavam e, após pedir ajuda a Deus, com quem comunicou numa igreja de Madrid. «Foi a 22 ou 23 de maio, em Madrid, onde vivia e trabalhava. Nesse dia desci uma rua para apanhar um táxi, mas de repente decidi entrar antes numa igreja que havia ali perto e sentar-me lá. No processo em que estava, entre a racionalização e a minha intuição, pedi a Deus que me levasse a tomar a melhor decisão» e, na mesma entrevista, reconheceu que essa resposta chegou por acontecimentos. «Criou-me um problema no dia a seguir, ao qual respondi daquela forma [demissão] e, com isso, libertei-me do que andava a sofrer».

Desde aí escreve livros de espiritualidade – o último foi uma novela de louvor a Nossa Senhora, intitulada Vem a Fátima Falar Comigo – e, na mesma entrevista, garante que comunica com Nossa Senhora. «Eu não ouço Nossa Senhora. Comunico com ela», referiu.

Ao mesmo tempo, João Ermida foi desenvolvendo trabalhos na área financeira, enquanto consultor independente de investimentos. 

Nomeações de Tavares

A par da nomeação para chairman, o SOL sabe que o presidente do Montepio tem levado para o banco pessoas da sua confiança. Em novembro, nomeou Leandro Silva – ex-chefe de gabinete de Tavares quando era ministro da Economia no Governo de Durão Barroso – para administrador executivo. Também Carlos Alves, número dois do conselho diretivo da CMVM quando Tavares liderava o regulador, assumiu agora funções de administrador não executivo do banco. Mas as nomeações não ficam por aqui. O SOL sabe que, em janeiro, Dulce Mota vai assumir as funções de administradora executiva no Montepio. A ex- CEO do ActivoBank é uma das pessoas próximas de Nuno Amado, chegou a ser chefe de gabinete do ex-presidente do BCP, e terá sido este a indicá-la para a administração da Caixa Económica.