Campeonato. Ah, esse tão saudável ar das ilhas…

O FC Porto vai mantendo uma pedalada forte na frente do pelotão. Ganhou nos Açores (2-1) e viu o Benfica, de cadeirinha, vencer o Marítimo na Madeira (1-0)

A derrota na Luz (0-1) parece ter servido de estímulo ao FC Porto. A partir daí lançou-se num ritmo impressionante de vitórias que não parecem vir a ter fim à vista tão cedo. Já vai em 13 consecutivas e, pelo andar da carruagem, não irá ficar por aqui. 

A deslocação aos Açores, a São Miguel, para defrontar o Santa Clara não ameaçava ser das mais complicadas para o dragão, a despeito de nos últimos anos se ter dado geralmente mal com os ares das ilhas. A verdade é que os açorianos se apresentaram em campo com um descaramento notável, decididos a colocar problemas sérios ao campeão nacional. A despeito de, inicialmente, os lances de maior perigo terem pertencido aos azuis–e-brancos, foram os ilhéus os primeiros a marcar, aos 38 minutos, num cabeceamento de Zé Manuel a cruzamento de Chrien. É em momentos assim que se comprova a saúde mental de uma equipa e Sérgio Conceição tem tido a capacidade notável de conferir ao seu grupo uma alma de combate que não se põe em causa. O golo de Soares sobre o apito para o intervalo apenas serviu para confirmar aquilo que se esperava.

O treinador açoriano não teve dúvidas em assumir que foi um momento marcante do jogo: “Houve uma entrada forte do FC Porto, mas conseguimos não sofrer golos. Se tivéssemos ido para o intervalo em vantagem, a história poderia ter sido outra. Conseguir um ponto também teria sido justo. Trabalhámos imenso, criámos oportunidades de golo e também soubemos sofrer. O Santa Clara mostrou que, independentemente do adversário, vai continuar a proporcionar bons espetáculos e a dar alegrias aos açorianos, na esperança de resolver este campeonato bem cedo.”

E continuou: “Quem marca golos ganha. Quem não consegue marcá-los sujeita-se. O FC Porto é justo vencedor porque marcou dois golos e o Santa Clara marcou um. Sinto um grande orgulho neste grupo de trabalho, um orgulho que faz com que toda uma região sinta satisfação por ser representada desta maneira, e isso é muito importante.” 

No segundo tempo, o FC Porto deu a volta ao jogo e o golo de Marega, aos 57 minutos, batendo Serginho (que entrara para o lugar do lesionado Marco), confirmou um favoritismo indiscutível. E assim, passo a passo, vai mantendo o primeiro lugar e a distância para o segundo, um Braga digno de elogios que parece querer voltar a intrometer-se nos postos da frente até ao final. Vencendo o Feirense em casa por 4-0, chegou a passar a noite de sexta no comando, com os mesmos pontos que os portistas.

Sérgio Conceição é um treinador feliz. No final do encontro de São Miguel, reforçou a ideia de que comanda a melhor equipa do campeonato: “Acabámos por sofrer o primeiro golo num campo difícil, pesado, que proporcionou um jogo não muito bonito mas competitivo. Conseguimos o empate ainda antes do intervalo e na segunda parte, com as alterações feitas, fomos à procura de uma vitória que foi justa. Esta equipa tem um grande caráter e personalidade e, em Portugal, ninguém está acima de nós! Nós às vezes é que nos permitimos dar algo aos adversários para serem melhores em certos momentos.”

Uns e outros

Com este resultado, o FC Porto vai agravando as crises dos adversários de Lisboa. Em Alvalade, Bruno de Carvalho continua a dividir os adeptos e a retirar sossego a um clube que se esperaria já livre dessa grandessíssima estucha, para utilizar um expressão do divino Eça. Na Luz, o Benfica apagou-se como equipa e vive numa espécie de limbo, na tentativa de voltar a criar nos adeptos a crença de que voltar a ser campeão é possível. Infelizmente, alguns desses adeptos continuam a alimentar a incivilidade, como aconteceu agora na Madeira, provocando tranquibérnias que levaram até à detenção dos meliantes. Obviamente que os clubes não podem ser responsabilizados por aquilo que os seus associados fazem pelas ruas do país, mas tem havido demasiados casos deste género, de tal forma que a direção dos encarnados tem sentido a necessidade de alertar publicamente para os danos que tais atitudes podem vir a provocar nas instâncias de justiça.

Claro que, também de viagem à ilha, tal como o seu rival das Antas, Dona Águia sabia com antecedência que não tinha mais espaço para perder pontos novamente. A distância para o primeiro lugar já é suficientemente considerável para se antever como muito difícil de superar. Mas, nesta fase da vida do clube, o fundamental é não cair na descrença completa. Ao fim ao cabo, é de um trapezista que estamos a falar. Ali ao lado está o abismo. E ele abre-se terrível para um grupo de jogadores que parece ter deixado de ter uma ideia coletiva de futebol, sempre muito dependente de assomos individuais e, cada vez mais, dos golos de Jonas. 

O encontro dos Barreiros foi, na sua generalidade, maçador e desinteressante. Aliás, algo que tem sido palavra de ordem nas jornadas deste campeonato de qualidade muito fraca, benza-o Deus. Jonas resolveu a questão dos pontos aos 45 minutos ao cavar um penálti claro e límpido como os olhos de Elizabeth Taylor. Depois foi aguentar o passar do tempo, pouco incomodado por um Marítimo inoperante. Dirão os benfiquistas que o que importa é ir ganhando e ninguém pode desmenti-los. Disse Rui Vitória: “Tivemos muita concentração na primeira parte, fomos a melhor equipa em campo, merecemos a vitória. Isso, para mim, é indiscutível. Devíamos ter finalizado melhor na segunda parte, mas vamos continuar a nossa fase de retoma, deixando tudo em campo. Era fundamental ganhar aqui e fico satisfeito pela forma como ganhámos. Temos de ter a capacidade de perceber os adversários e a forma de os bater. Foi mais um teste. Passámos!”

Sim, passaram. Mas com um professor exigente, a roçar a negativa. Convenhamos: depois de tudo o que aconteceu na fase catastrófica em que caiu para o quarto lugar e foi goleado em Munique, sem apelo nem agravo, cada vitória, por medíocre que seja, é um bálsamo para uma águia ferida no orgulho e de mentalidade arrasada.