Detido suspeito da morte de Marielle Franco

Renatinho Problema é um alegado cabecilha duma mílicia com ligações a um vereador do Rio de Janeiro

Um dos suspeitos da morte de Marielle Franco, Renato Nascimento Santos, conhecido por Renatinho Problema, foi esta terça-feira preso por suspeita de homicídio e associação criminosa num outro caso não relacionado com a morte da vereadora do Rio de Janeiro, assassinada a tiro a 14 de março, junto com o motorista Anderson Gomes.

A detenção ocorreu em Guapimirim, município do Rio de Janeiro, tendo Renatinho sido detido juntamente com o ex-polícia militar Bruno Nascimento de Oliveira, na posse de um revólver e uma pistola Glock com alongador de carregador, além da munição das armas. 

Segundo representantes da policia, o mandato é por homicídio e associação criminosa e não está ligado com o caso. A possível participação do suspeito no caso Marielle será agora investigada pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Renatinho Problema é apontado como um dos cabecilhas da milícia de Orlando Oliveira de Araújo, um ex-policia militar apelidado de Orlando de Curicica. Existe a suspeita de que Renatinho estava no veículo de onde partiram os disparos que mataram Marielle e Anderson, afirmou a delegada Carla Tavares.

Em depoimento após a detenção, o suspeito negou participação na milícia, mas disse que era motorista de Orlando de Curicica. O ex-polícia foi denunciado como organizador do assassinato da vereadora e do seu motorista. A denúncia surgiu em maio e terá partido de um antigo aliado de Orlando, que implicou também o vereador Marcello Siciliano do PHS.

O homem alega ter testemunhado uma conversa num restaurante em que ambos os suspeitos arquitetaram a morte da vereadora. “Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: ‘Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando’. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: ‘Marielle, piranha do [Marcelo] Freixo [referindo-se ao deputado estadual do PSOL, também ameaçado pelas milícias]’. Depois, olhando para o ex-polícia militar, disse: ‘Precisamos resolver isso logo’, afirmou a testemunha, segundo o “Globo”.

Tanto Orlando como o vereador Siciliano negam as acusações. O vereador garantiu não conhecer o membro da milícia: “Querem-me matar com a mesma bala que mataram Marielle”. A sua casa e o seu gabinete foram alvos de buscas esta sexta-feira, e o suspeito pediu que a sua investigação fosse tornada federal. “Eu quero ser investigado por pessoas acima de qualquer suspeita” afirmou, mostrando que não confia na polícia do Rio.

Já Orlando, suposto líder da quadrilha de Renatinho, está de momento preso na prisão de Bangu, respondendo por outros homicídios. Diz ter sido pressionado para assumir a autoria do ataque a Marielle e acusar o vereador. Afirma que o responsável da Divisão de Homicídios, Giniton Lages, ter-lhe-á pedido: “Fala que o cara [vereador Siciliano] te procurou, pediu para você matar ela, você não quis, e o cara arrumou outra pessoa.”

Numa entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”, Richard Nunes, secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, considerou que Marielle Franco “estava lidando em determinada área do Rio controlada por milicianos, onde interesses económicos de toda a ordem são colocados em jogo.” Neste caso em particular, a vereadora do PSOL atrapalharia a “grilagem” de terras [falsificação de documentos para tomar posse de terrenos] na zona oeste do Rio. Richard Nunes disse que é provável que os suspeitos sejam mortos. Segundo o general, são pessoas que “estão mais sujeitas a esse tipo de desfecho”.

Marcelo Freixo, eleito pelo mesmo partido de Marielle, tem criticado a demora na investigação, considerando inclusive que Richard Nunes faz “declarações de efeito para ganhar tempo”. O deputado diz que “passaram nove meses. É tempo suficiente para se apresentar provas”.