Sindicatos iniciam greve de jornalistas contra a repressão no Sudão

O sindicato critíca a repressão dos opositores do presidente sudanês, que já terá vitimado pelo menos 37 pessoas

Um sindicato independente de jornalistas sudaneses entrou em greve esta quinta-feira, defendendo a liberdade de expressão e criticando a repressão policial feita pelo presidente sudanês, Omar Bashir. 

"Declaramos uma greve de três dias, a partir de 27 de dezembro, em protesto contra a violência do governo contra manifestantes", afirmou o sindicato, em comunicado.

Os jornalistas no Sudão são frequentemente alvo de represálias pelas autoridades, sendo o país considerado pelos Repórteres sem Fronteiras um dos com menos liberdade de imprensa. Dezenas de jornalistas terão sido presos este ano pelas autoridades sudanesas.

A greve é mais um dos protestos contra o fragilizado governo de Cartum, liderado por Bashir há 29 anos, desde que tomou o poder num golpe de estado em 1989. A contestação terá sido despoletada por uma crise económica que levou ao aumento do custo de produtos essenciais, como o pão e os combustíveis.

As manifestações foram convocadas por vários sindicatos e partidos da oposição. Sidki Kabilo, dirigente de um desses partidos, afirmou que "as massas aperceberam-se que há uma forte ligação entre a economia e a política. O regime prometeu várias vezes corrigir o seu rumo, mas esta crise é o resultado da própria natureza do regime, que gasta dinheiro a proteger-se e a comprar lealdade e apoio".  

A greve de jornalistas surge depois de o governo responder com mão pesada às várias manifestações contra o palácio presidencial. Os manifestantes foram dispersos com cargas policiais, gás lacrimogéneo e chegou a ser utilizado fogo real. A repressão causou até agora a morte de oito pessoas, segundo os números oficiais, no entanto a estimativa da Amnistía Internacional fala em pelo menos 37 vítimas mortais. Os manifestantes entoavam canticos como "pacíficamente, pacíficamente, contra os ladrões" e "o povo quer derrubar o regime".

Entretanto, num discurso dirigido a uma multidão de apoiantes, o presidente sudanês acusou os manifestantes de serem manobrados por "agentes estrangeiros, traidores, foras-da-lei e pessoas destrutivas".