Corrupção pode levar a estado de emergência no Peru

O anuncio do presidente peruano surge após o afastamento suspeito dos investigadores do caso Odebrecht

O presidente do Peru, Martin Vizcarra, irá pedir ao congresso para declarar o estado de emergência no país. A decisão surge após o procurador-geral do Peru, Pedro Chávarry, ter afastado os dois principais procuradores que lideravam a investigação ao caso Odebrecht, o equivalente à operação brasileira Lava Jato, que envolve quatro ex-presidentes do país. 

Segundo a lei peruana, o procurador-geral é nomeado diretamente pelo ministério público, sem passar pelo presidente, que não pode afastar Chávarry. O procurador do governo peruano para o caso, Jorge Ramírez, assegurou que a destituição dos dois investigadores põe em causa o acordo de delação premiada com a contrutora brasileira Odebrecht.

Os dois procuradores afastados, José Perez e Rafael Vela, tinham anunciado este mês a intenção de multar empresas locais, políticos e empresários por corrupção em projetos ligados à Odebrecht. O total das multas ascenderia a cerca de 180 milhões de dólares. 

No entanto, o procurador-geral, Chávarry, considerou "necessário anular a nomeação de Rafael Vela e José Domingo Pérez". Citou como motivo o desrespeito às hierarquias, após José Pérez ter acusado Chávarry de encobrimento, por obstruir investigações contra Keiko Fujimori, a principal líder da oposição, acusada de receber subornos da construtora.

Keiko é filha de do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que foi condenado a 25 anos de prisão por organizar esquadrões da morte contra opositores políticos e que, segundo a ONG Transparência Internacional, terá feito uma fortuna de 600 milhões de dólares ilegalmente durante os seus mandatos. A filha mantém o legado político do pai e o seu partido tem controlo do congresso peruano.

O escândalo Odebrecht não atingiu apenas Fujimori, mas também a maioria das restantes forças políticas peruanas. Entre os investigados estão os ex-presidentes Alejandro Toledo, que fugiu para os Estados Unidos e enfrenta a possibilidade de extradição, Allan García, Ollanta Humala, preso nove meses juntamente com a sua esposa, e Pedro Kuczynski, que garantiu um perdão a Alberto Fujimori, numa tentativa falhada de conseguir apoio político da sua filha. Kuczynski acabou por renunciar ao cargo em março deste ano, após acusações de corrupção, sendo sucedido pelo atual presidente, Vizcarra, que era seu vice e que tomou posse por sucessão constitucional.

Na altura do anúncio do afastamento dos procuradores, o presidente peruano encontrava-se na tomada de posse de Jair Bolsonaro e teve de encurtar a sua estadia para regressar a Lima. "À luz dos novos acontecimentos, decidi adiantar o meu regresso ao país para continuar a liderar a luta contra a corrupção e a impunidade", afirmou Vizcarra nas redes sociais. 

O chefe de Estado pediu que o estado de emergência fosse aprovado rapidamente pelo congresso, dado que permite implementar todas as mudanças consideradas necessárias para se avançar na investigação ao escândalo Odebrecht. "Usaremos todas as ferramentas presentes na nossa Constituição para alterar esta decisão [o afastamento dos dois procuradores] e pedimos a todos os ramos do governo que façam o mesmo", afirmou o presidente peruano em conferência de imprensa.