Romney critica Trump e diz que um presidente deve mostrar “honestidade e integridade”

Senador do Utah mostra divergências com presidente em artigo de opinião no “Washington Post” e já se fala em que desafiará Trump em 2020

O antigo candidato presidencial republicano, e senador eleito do Utah, Mitt Romney, veio ontem a público criticar o caráter e as políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Num artigo de opinião no “Washington Post”, Romney questionou a conduta do presidente, “em particular no último mês”, referindo-se às ações que levaram à demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis. 

O senador assumiu-se como crítico da abordagem unilateral de Trump à política externa, que qualificou de “abandono de aliados”. Esta abordagem tomou forma na retirada de tropas em missões conjuntas da NATO, no Afeganistão e na Síria, sem discutir a questão com os seus homólogos de países aliados. O antigo candidato presidencial considerou que as ações de Trump afetaram a liderança global norte-americana.

Para Mitt Romney, “um presidente deve demonstrar as qualidades essenciais de honestidade e integridade, e elevar o discurso nacional”, algo que Trump não tem demonstrado, contribuindo para que a nação esteja hoje “dividida, ressentida e zangada”. Criticando também a nomeação para cargos de relevo de “pessoas com pouca experiência”.

Apesar de tudo, o antigo candidato presidencial republicano, assumiu que “nem todas as ações do presidente foram equivocadas”. Considerou positiva a retirada de “regulamentações excessivas” do setor empresarial , a posição dura em relação às “práticas comerciais desonestas” da China e a nomeação de juízes conservadores para o Supremo Tribunal. No entanto,  sublinhou, que “estas são políticas defendidas por republicanos tradicionais há anos.”

O senador afirmou que continuará a agir “como faria com qualquer presidente”, seja ele do seu partido ou não. Diz que apoiará políticas que “sejam do interesse do país”, mas que se oporá a todas aquelas que considerar que não sejam.

Romney já era apontado pelo presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, como um possível “porta-estandarte” da ala mais tradicional do partido republicano, após a morte de John McCain. O senador do Utah, que já concorreu duas vezes à presidência, é visto como um potencial adversário de Trump para as presidenciais de 2020. Caso se venha a concretizar, será a primeira vez desde 1992 que um presidente eleito enfrentaria um desafio sério à sua reeleição dentro do seu próprio partido.

Republicanos apoiantes de Trump reagiram rapidamente ao posicionamento de Romney. Segundo a CBS, duas horas depois do artigo ser publicado, um membro do Comité Nacional Republicano, Jevon Williams, apelidou-o de “traição política calculada” e exigiu por email a alteração de “lacunas” nas regras de nomeação de candidatos republicanos, de modo a tornar mais difícil que haja um desafio a Trump. Considerou que qualquer outro candidato republicano “teria custos” e “apenas ajudaria os democratas”.

Trump também reagiu através do Twitter para dizer: “Ganhei à grande e ele não”. O presidente também afirmou que o senador “deveria ficar feliz por todos os republicanos”, e acusou-o de ser um “floco de neve” (termo pejorativo da direita americana para pessoas de esquerda) e pediu ao senador para se “concentrar na segurança das fronteiras”.