Ai querem greves? Tomem lá greves…

Já não recordo quem escreveu que a direita é burra. Pelo menos no que se refere aos partidos que fazem oposição à ‘geringonça’, tinha razão. Pelo que se vê na Assembleia da República, CDS e PSD estão falhos de ideias e não convencem: acusam o Governo de não ter estratégia, o que é uma evidência,…

Já não recordo quem escreveu que a direita é burra. Pelo menos no que se refere aos partidos que fazem oposição à ‘geringonça’, tinha razão. Pelo que se vê na Assembleia da República, CDS e PSD estão falhos de ideias e não convencem: acusam o Governo de não ter estratégia, o que é uma evidência, mas escusam-se a dizer como farão melhor. O CDS ainda se esforça por fazer prova de vida, mas não tem eco.

Nos últimos três anos, a ‘queixa’ que mais se ouviu foi a de que a coligação de esquerda tinha acabado com as greves. ‘Dêem-nos greves’, parecia implorar-se no Parlamento. Fino que nem um alho, António Costa ouviu, piscou o olho a Jerónimo de Sousa… e a CGTP saiu à rua. ‘Ai querem greves? Tomem lá greves…’ E aí as temos, em quantidade que dá para matar as saudades. Solícito, Mário Nogueira sacou logo da pistola: “Querem guerra? Guerra terão!”.

As saídas dos debates em S. Bento são triunfais: um primeiro-ministro beatamente sorridente, ladeado por um Pedro Nuno Santos feliz por ter feito bem os TPC e por um Augusto Santos Silva com o gozo mefistofélico de quem vê as suas estratégias marcarem pontos. Comparar o ministro a Mefistófeles não é crítica, é um tributo à inteligência que os adversários lhe reconhecem e que o autor destas linhas não se atreve a contestar. Já quanto ao gosto de «malhar na direita», não aprecio mas concordo que a incompetência merece bengaladas.  

Aqui chegados, tomemos como exemplo o celebrado ‘combate à corrupção’. Que faz a direita? Explora o filão Sócrates? Nada, deixa-o esquecido e entretém-se a fazer graças com a casa do primo. 

A direita investiga a gestão socialista da ANA e o betão que jorrou na Portela, durante mais de 20 anos, 24 horas por dia, 365 dias por ano? Não, porque investigar exige trabalho, de que a direita anda arredia desde a morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. Desde esse funesto acontecimento, alguma vez a direita mostrou levar os temas nacionais a sério, tomando posição clara, por exemplo, sobre a nebulosa das energias? Nem pensar, porque os telhados de vidro do PSD são mais que muitos e o partido prefere dar palpites para adensar as dúvidas. 

A direita vai dar-se ao trabalho de estudar a auditoria à CGD, relativa ao período de 2000/2015? Tirem daí o sentido: a direita prefere fazer barulho com os ‘escândalos’ dos secretários de Estado que foram a França ver a bola, porque, na lógica da burrice, os crimes estão nos ‘amendoins’. António Costa e Santos Silva rebolam-se de gozo com estes arroubos de ‘combate político’.  

Quanto aos abusos do poder, a direita ‘cala a desgraça’ (cito Manuel Alegre). 

Tudo por preguiça, por cobardia e por medo. Com o maior descaro, José Sócrates, Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio apropriaram-se do BCP para o entregarem à SONANGOL – que, assim, se poupou ao lançamento de uma OPA. O PSD fingiu que não viu e assobiou para o lado, parecendo ceder a um pacto de não-agressão: tu calas as patifarias do PS na CGD e no BCP, e eu não falo dos arranjinhos do PSD no BPN.