Acabou paraplégica na sequência de uma agressão do namorado. Contudo é “em parte culpada”

“O que não entendo é que me imputem responsabilidade. É como se eu tivesse contribuído, como se tivesse procurado ficar paraplégica para o resto da vida”

Uma jovem francesa foi agredida pelo namorado em 2013. Depois de ser atirada de um segundo andar, acabou paraplégica. Anos depois, em 2016, o namorado foi julgado e condenado a 15 anos de prisão. A jovem, cuja identidade não é revelada, teria direito a uma indemnização no valor de 90 mil euros. Contudo, o Fundo de Garantia para Vítimas considera que “há uma responsabilidade partilhada” e, por isso, a jovem não tem direito à indemnização na totalidade.

Segundo o organismo estatal francês que gere as indemnizações às vítimas, citado pelo El País, a jovem foi  “negligente e imprudente” , tudo porque regressou a casa depois de a polícia já ter sido chamada na sequência de uma discussão e tê-la aconselhado a afastar-se do local. Desta forma, é “em parte culpada”.

De acordo com o jornal Le Maune, a jovem explica que não conseguiu sair de casa porque os pais viviam a dezenas de quilómetros de distância e àquela hora não haviam transportes públicos. Apesar de tentar arranjar uma alternativa, não conseguiu e regressou a casa.

“O que não entendo é que me imputem responsabilidade. É como se eu tivesse contribuído, como se tivesse procurado ficar paraplégica para o resto da vida”, disse a jovem em declarações à France 2.

No mesmo canal, Nathalie Faussar, presidente do fundo reiterou a decisão.

 “Neste caso, ficou provado que a vítima não respeitou as regras de prudência que a polícia lhe tinha recomendado, não só para abandonar a casa como a cidade. A justiça considerou, por isso, que era motivo para reduzir a indemnização”, disse.

O caso levou também a atual secretária de Estado para a Igualdade, Marlène Schiappa, a reagir.

“Considerar que uma mulher é responsável, mesmo que parcialmente, ou mesmo que apenas administrativamente, da violência que sofreu vai contra todo o trabalho que fazemos aqui para explicar que uma mulher nunca é responsável pela violência que lhe é imposta”, escreveu no Twitter.