Taiwan faz frente à ameaça da China

A tensão entre a China e Taiwan subiu esta semana de tom. Pequim ameaçou com o uso da força para reunificar Taiwan e Taipé disparou um míssil para mostrar que se consegue defender.

Taiwan faz frente à ameaça da China

O Governo taiwanês não gostou das palavras do Presidente chinês, Xi Jinping, sobre a «reunificação pacífica» ser uma «inevitabilidade» e de o uso da força ser uma opção para Pequim. Em resposta, a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, ordenou o lançamento de um míssil supersónico, capaz de afundar navios  chineses, como prova de que a pequena ilha não abdicará da sua independência de facto sem dar luta. 

Poucas horas antes da prova de força, Tsai já tinha rejeitado as palavras do seu homólogo chinês: «A maioria dos taiwaneses opõe-se resolutamente a ‘um país, dois sistemas’, este é o consenso de Taiwan». Depois, desafiou Pequim «a avançar corajosamente na sua democracia, por só assim conseguir realmente compreender o pensamento e a insistência do povo de Taiwan». Xi Jinping, continuou a chefe de Estado, deve respeitar a democracia e a vontade do povo de Taiwan.

A tensão no estreito não é nova, mas esta semana subiu de tom depois de o Presidente chinês ter garantido, na cerimónia dos 40 anos da política de uma só China, no Grande Salão do Povo, em Pequim, estar disponível para «tomar todas as medidas necessárias» para garantir que a «reunificação pacífica» de Taiwan, à semelhança dos modelos de Hong Kong e Macau, seja uma realidade. «Não prometemos renunciar ao uso da força», disse Xi Jinping, avisando que se Taiwan declarar a independência será um «grande desastre»  que levará a um «impasse» num processo de reunificação que é «inevitável». 

Pequim olha para Taiwan como se fosse uma província chinesa sem direito a reconhecimento como Estado e a cisão como legado de uma nação chinesa «fraca» e «mergulhada no caos». Agora que a China já não é mais uma potência subordinada, como o foi no tempo da Guerra dos Boxers (1899-1901), quando perdeu Hong Kong, e até à Revolução Chinesa, Pequim quer reunificar o território e afirmar-se como uma das potências incontornáveis na Ásia-Pacífico e no mundo. Já Taipé tem mostrado, desde o fim da Guerra Civil Chinesa (1946-49), não ter qualquer vontade em ser governada pelo continente. 

Pequim não se tem poupado a esforços para isolar Taipé e garantir margem de manobra para avançar com o uso da força para reunificar o país. Os Estados Unidos são o principal e histórico aliado de Taiwan, com os restantes Estados a preferirem manter relações com Pequim em detrimento de Taipé. 

As palavras de Xi Jinping surgem num momento em que o campo independentista estava a perder força na ilha, com grande parte dos taiwaneses a recusarem uma linha dura contra Pequim. Nas eleições municipais de novembro, o partido de Tsai, o Partido Progressista Democrático, sofreu uma dura derrota face ao Kuomintang, que ironicamente assume uma posição mais conciliatória com o continente. O antigo partido de Chiang Kai-Chek conquistou 15 das 22 cidades e Tsai viu-se obrigada a abandonar a liderança do seu partido.

«Xi precisa desesperadamente de vitórias na frente do poder», explicou Willy Lam, professor adjunto na Universidade Chinesa de Hong Kong, à Asian Review, referindo que o fraco desempenho económico do gigante asiático e a guerra comercial com Washington fragilizou a sua liderança, antes incontestada. «Xi Jinping está a subir a tensão e a reforçar a dimensão militar». 

Desde 2016, quando Tsai chegou ao poder, que a força aérea e marinha chinesas têm realizado regularmente patrulhas nas proximidades da ilha, num total de 27 até ao momento – uma estratégica recorrente nos territórios disputados pela China. «Essas patrulhas tornaram-se no programa normal e [começaram a ser] incluídas nos planos anuais de treino do exército chinês», explicou Song Zhonping, especialista em assuntos militares, ao South China Morning Post. «Se o exército chinês atenuasse a sua postura militar, iria enviar um sinal errado, o de que não está tão determinado sobre Taiwan», acrescentou. No último dia de 2018, Donald Trump assinou uma lei que aumenta o envolvimento dos EUA na região da Ásia-Pacífico e a venda de armas a Taiwan. 

Com exceção dos EUA, a frente diplomática não tem corrido de feição para Taipé. Hoje, a ilha mantém relações diplomáticas com apenas 17 Estados, depois de El Salvador ter rompido as relações diplomáticas em 2018. A China tem-se focado em ganhar influência na América Latina. Em troca de empréstimos e investimento, o regime chinês exige aos países que cortem os laços com Taiwan. 

A crescente dependência da economia taiwanesa face à China continente é outro fator alarmante para Taipé. Há 30 anos a economia da ilha rivalizava com a chinesa, mas hoje é bem menor, com 40% das exportações a serem absorvidas pelo mercado chinês – muitas das empresas taiwanesas deslocalizaram as suas fábricas para a China por a mão-de-obra ser mais barata. A elevada exposição à economia chinesa pode representar não apenas um risco económico, mas também político. Tsai receia que Xi use esta dependência como instrumento de pressão política, num abraço de urso económico em prol da reintegração do território na República Popular da China.