Quinto

Gostava de poder prometer-te uma gravidez tranquila e dedicada, com tempo de reflexão e encontro. Mas a vida por aqui é agitada e as solicitações são mais que muitas. No entanto faço tudo o que posso para te proteger, mimar e permitir crescer bem. Também não te consigo garantir todo o tempo e dedicação exclusiva…

Gostava de poder prometer-te uma gravidez tranquila e dedicada, com tempo de reflexão e encontro. Mas a vida por aqui é agitada e as solicitações são mais que muitas. No entanto faço tudo o que posso para te proteger, mimar e permitir crescer bem.

Também não te consigo garantir todo o tempo e dedicação exclusiva quando nasceres, mas já somos muitos e o tempo terá de ser dividido entre todos. No entanto o irmão que se segue a ti foi um ano mais cedo para a escola do que eu desejava para que a tua chegada não fosse tão difícil para ele e assim, durante o dia, enquanto os mais velhos estiverem fora, estarei sempre só contigo. Cá em casa é assim que funciona: às vezes temos de fazer sacrifícios uns pelos outros, temos de ceder para que outros possam receber, mas no fim ficamos todos a ganhar.

Gostava de te prometer o sossego que mereces, como merece qualquer ser acabado de vir ao mundo, mas não posso jurar que não haja gritos – de euforia e arreliação -, música ou até o rufar de tambores à hora a que queres dormir. Por aquilo a que tenho assistido, conseguirás fazê-lo de qualquer forma e este barulho de fundo parecerá a melhor canção de embalar.

À medida que fores crescendo vais percebendo que a maioria das coisas que julgavas serem tuas, nem sempre o foram. As camisolas estão mais gastas e quase todas estão um número maior do que regista a etiqueta, as calças têm joelheiras que não são de origem e já assistiram a muita correria e os brinquedos já resistiram a bons tempos de diversão e outros de alguma tortura.

No entanto tenho a certeza que vais crescer a bom ritmo. Que serás independente e desembaraçado. Que os micróbios que os teus irmãos trouxerem da escola, que te irão ceder carinhosamente sempre que te passarem as mãos pela cara, te tornarão mais forte. Que estarás mais a salvo das nossas crenças e expectativas. Serás mais livre. 

Posso prometer-te que terás à tua espera não quatro, mas doze braços desejosos de te receberem, de te apertarem no colo, seis pares de olhos brilhantes e curiosos desejosos de te descobrirem e além de dois grandes, quatro corações pequeninos que vão bater muito depressa quando te virem pela primeira vez. Quatro irmãos que vão correr para ti sempre que chegarem da escola, para ver se estás bem, se cresceste, se já consegues brincar com eles.

Também te posso prometer que vamos conseguir encontrar um nome para ti, mesmo que seja só quando te virmos pela primeira vez e que, apesar de ser uma escolha mais difícil, por as nossas quatro primeiras já estarem tomadas, será tão bonito como os outros, só não tão fácil de encontrar.

Acima de tudo, prometo-te uma grande família desinquieta mas muito feliz, cheia de amor e carinho para te oferecer e quatro irmãos ao lado de quem vais crescer, que te vão amar sempre e proteger, mesmo quando nós já não o pudermos fazer.

Meu querido quinto filho.

filipachasqueira@gmail.com