Primeira-dama. O modelo a seguir

O vestido rosa que Michelle Bolsonaro usou na tomada de posse pode ser muito parecido com um dos vestidos que Melania Trump usou no dia da tomada de posse do marido como Presidente dos EUA, mas será essa a imagem de primeira-dama que quererá adotar?

Primeira-dama. O modelo a seguir

Se o vestido usado por Michelle Bolsonaro na tomada de posse do marido como Presidente do Brasil está a dar que falar, também por ser muito parecido com um dos que Melania Trump usou no dia em que Donald Trump assumiu como Presidente dos Estados Unidos, a verdade é que o estilo até poderia apontar mais para outra primeira-dama dos EUA, Michelle Obama. Aliás, o segundo vestido que a primeira-dama brasileira usou no seu primeiro dia faz lembrar o vestido negro que a primeira-dama norte-americana envergou no último discurso do Estado da Nação de Barack Obama.

O que Michelle Bolsonaro não parece desejar é emular a sua antecessora, Marcela Temer, que pouco trabalho social fez, quase não acompanhou o marido, Michel Temer, em atos oficiais e mal saiu do Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente brasileiro que foi a sua mesmo depois do marido chegar à Presidência por via do impeachment de Dilma Rousseff. O momento de maior atração mediática foi quando saltou para o lago para salvar o seu cão, Picoly. Ou no último dia como primeira-dama, porque não passou despercebido o facto de usar o mesmo vestido que usara numa cerimónia oficial em 2016.

A escolha de Marie Lafayette, uma estilista de vestidos de noiva de Bota Fogo, no Rio de Janeiro, a mesma que lhe tinha feito o vestido de casamento, é um sinal de que Michelle Bolsonaro pretende manter as coisas simples e sob controlo: mesmo com todo o assédio de estilistas de renome para a vestir no dia da posse, optou por alguém que não se importa de desenhar de acordo com a inspiração das suas clientes. «Ela é uma mulher muito simples, porém elegante. Sabe exatamente o que quer. Foi assim quando me pediu para desenhar seu vestido de noiva», contou Marie Lafayette, citada pelo site Extra.

Lilian Pacce, na revista Época, escreveu que «o tom suave e delicado do vestido de zibeline de seda contrastou com o andar duro e desajeitado, pouco acostumado ao salto alto e escarpins (sapatos abertos atrás), da nova primeira-dama». Para a cronista, Michelle «seguiu uma cartilha de elegância clássica que tem origem no estilo de Jacqueline Kennedy», a dama que mais influência teve na moda (ver texto ao lado).

Roupas discretas, tons suaves e bons tecidos, eis a receita que Jackie deixou como legado da sua curta passagem pela Casa Branca, assassinado o marido em Dallas antes de cumprir o terceiro ano na Presidência. A clássica gola Dior, marca muito relacionada com a antiga primeira-dama norte-americana, deu uma ajuda na ligação estabelecida entre Michelle e Jackie.

Mais habituada às calças de ganga, às t-shirts e aos sapatos baixos, a primeira-dama do Brasil gosta de malas de marca, mas não de maquilhagens carregadas, nem de roupas curtas ou grandes decotes. Como não podia deixar de ser a quem é uma fiel evangélica praticante.

Marie Lafayette lembrava isso mesmo quando, em novembro, ainda não sabia que seria a escolhida para voltar a vestir a agora primeira-dama, até porque desde que lhe desenhara o vestido de noiva em 2013 as duas nunca mais tinham tido contacto: «Penso numa roupa leve, um floral claro bem discreto, manga três quartos, já que será um dia muito quente, em pleno verão. E não podemos esquecer que a Michelle é evangélica, não vai querer ousar num dia como este».

Na imprensa brasileira, fala-se num modelo de vestido que faz lembrar as estrelas de cinema dos anos 1950, e o nome de Audrey Hepburn, a atriz de Breakfast at Tiffany’s/Boneca de Luxo, é lembrado, por ter sido também ela um ícone da moda do seu tempo. Um estilo anos 50, minimalista e clássico que, afirmam os especialistas na matéria, estará muito em voga em 2019.

Houve quem juntasse ao rol de exemplos evocados o de outro ícone da moda, a atriz que se tornou princesa do Mónaco, Grace Kelly: «A cor, o estilo e o tipo de decote, superfemininos, lembram muito os looks de Grace Kelly, Jacqueline Kennedy e Audrey Hepburn. Deu-lhe o destaque na medida certa, sem roubar a cena», garantiu a especialista em moda Paula Acioli, citada pelo Globo,

O vestido pode até parecer simples, mas a sua feitura foi laboriosa. Foram precisos 20 dias de trabalho ininterrupto de 14 horas diárias das costureiras do ateliê para conseguir que estivesse pronto a tempo. «Não durmo bem há dias», confessou a estilista. «O modelo parece simples, mas tem uma estrutura bem complexa, com molde de alfaiataria. Nas costas são cerca de 20 botões forrados», explicou.

No Brasil criticou-se o preço acima de três mil euros do vestido, ou seja, mais de 15 salários mínimos, mas a estilista garante que todas as indumentárias usadas em cerimónias oficiais por Michelle Bolsonaro vão acabar por ajudar boas causas: «Falei que a gente poderia fazer essa e outras roupas oficiais que ela for usar, aí a gente junta essas roupas depois e pode fazer um leilão beneficente. Ela adorou a ideia», referiu Marie Lafayette à revista Exame, edição brasileira.

A estilista, de 37 anos, que dirige há dez anos o ateliê com o seu nome e também é evangélica, fator de peso na escolha, garante que «Michelle vai ser uma primeira-dama muito ativa, muito engajada em projetos sociais», porque esse «é muito o perfil dela», o perfil de «mulher forte e guerreira» que «vai surpreender» o Brasil.