Do jamais à realidade virtual

Pedro Marques nasceu para a política no Montijo, como vereador, e é do Montijo que parte para outros voos

E pronto… a menos de cinco meses de eleições europeias e a menos de nove das legislativas (ainda com regionais na Madeira de permeio), eis que o Governo de António Costa – após três anos de investimento público zero –  trata de anunciar um ambicioso plano de muitos milhares de milhões para um conjunto de infraestruturas e obras públicas a realizar nas próximas décadas. Sim, leu bem, nas próximas décadas.

E, num ápice, um Governo cujo segredo do equilíbrio das contas públicas se baseou nas cativações e no absoluto desinvestimento público passa a marcar a agenda mediática com o debate sobre o novo aeroporto, a terceira travessia sobre o Tejo, o alargamento da rede de metropolitano na capital, a modernização da ferrovia e das composições ferroviárias… Sem gastar um tostão. 

É obra! De um ilusionista, mas é obra!

 

Se um dia Mário Lino, então ministro das Obras Públicas, disse que o aeroporto na margem sul, em bom francês, «jamais»; António Costa, agora com os seus parceiros gauleses da Vinci, e com José Luís Arnaut ao lado, diz exatamente o contrário.

Avance-se e a todo o vapor, que, enquanto se faz ou não se faz o estudo de impacto ambiental sobre a viabilidade futura de um mega-aeroporto no Montijo, a Vinci toma conta do Figo Maduro e da expansão do aeroporto da Portela, que é o que importa a todos.

Depois, como diz Costa, logo se verá.

O mais provável é que, entretanto, a capacidade da Portela seja redobrada e que se desvie a carga aérea para o Montijo, o que aliviará mais o aeroporto Humberto Delgado.

Além disso, já está planeada nova ligação ferroviária à alta velocidade de Espanha, ligando a linha que virá do porto de Sines a outra que servirá o porto do Barreiro e o futuro aeroporto do Montijo, mais um ramal para Setúbal, passando por Évora e Elvas e entrando em Badajoz.

Para compor o ramalhete, ficará só a faltar a… terceira travessia sobre o Tejo. E esta, uma vez mais contemplando os amplos interesses em jogo, servirá aos acionistas da Lusoponte, entre os quais se encontram… os franceses da Vinci.

Dir-se-á que são coincidências a mais ou especulações abusivas. 

Pois sim, mas é como as bruxas: por mais que nelas não acreditemos…

 

Se não, vejamos: este mega plano de investimentos públicos para as próximas duas ou três décadas foi apresentado pelo ministro das Obras Públicas e dos Transportes, Pedro Marques. Em cerimónia pública e com toda a pompa e circunstância, envolvendo até assinatura de contratos com os parceiros de investimento.

Mas não se fica por aqui, ou não fosse ano eleitoral. Seguem-se agora uma série de iniciativas e sessões propagandísticas regionais que acabarão dentro de semanas com uma sessão final no Montijo.

Ora, o ministro Pedro Marques nasceu para a política precisamente no Montijo, eleito vereador pelo PS nos primeiros anos do novo milénio.

Só faltava que – como, aliás, foi ontem notícia na primeira página do Público – venha a dar-se a ‘coincidência’ de Pedro Marques deixar de ser ministro para ser o cabeça de lista do PS às europeias de maio. 

É verdade que o ministro fez zero ao longo de três anos de mandato. Mas, em 2019, além da redução drástica nos preços do passe social a partir deste mês de janeiro, com a introdução do passe social único nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto (onde se concentram os votos para o Parlamento Europeu), Pedro Marques começa o ano com a maior operação de propaganda paga pelo dinheiro público, envolvendo milhares de milhões mas sem um cêntimo de investimento realizado. Extraordinário!

 

A verdade é que António Costa nasceu mesmo com o fundo das costas virado para a lua.

Com o PCP e o BE metidos no bolso, só lhe faltava que a oposição continuasse entretida na oposição a si própria. 

A menos de cinco meses das europeias e de nove das legislativas (ainda com regionais da Madeira de permeio), o PSD continua feito um saco de gatos. 

E agora, ou há uma clarificação rápida entre os sociais-democratas, ou o PSD corre sérios riscos de uma implosão eleitoral.

Havendo, então teremos de esperar para ver. 

Veremos.