Rui Rio nem com o colinho do Presidente vai lá

Para animar mais a nossa vida política existe Marcelo Rebelo de Sousa, que além de gostar de telefonar para a televisão, também adora dar colinho a Rio.

Vamos por partes: Rui Rio foi eleito pelos seus pares para liderar o PSD até 2020, permitindo-lhe dessa forma enfrentar os três próximo atos eleitorais: Europeias, Regionais da Madeira e Legislativas.  Tem, por isso, toda a legitimidade para se manter como presidente do partido e dificultar a vida aos seus opositores. Basta-lhe fazer uso da burocracia e adiar um congresso extraordinário o tempo que a lei lhe dá.  Mas isso seria um desastre ainda maior do que aquele que o PSD já vive, pois Rui Rio teria de lutar contra os partidos adversários e contra os próprios militantes do seu partido.

A liderança de Rui Rio faz-me lembrar muito um personagem do filme os Dias da Rádio, de Woody Allen, em que um promissor jogador de basebol acaba por perder uma perna, mas continua a jogar. Depois, como um azar não vem só, perde um braço, mas mantém-se firme e hirto, tanto quanto possível, como lançador.  Perde uma vista, mas nada o demove de ser um grande jogador de basebol, até que mais um azar lhe tira a vida. 

 

Rui Rio, com as devidas distâncias, tem muitas semelhanças com o tal jogador. Apareceu cheio de força, mostrando que consigo a política seria diferente e que da mesma forma que conquistou a Câmara do Porto conseguiria conquistar o país. Logo no primeiro round começou a perder o partido e nos seguintes transformou-se numa verdadeira muleta do primeiro-ministro, quando era suposto ser o seu adversário. A maior parte do tempo andou desaparecido e quando deu um ar da sua graça foi pior a emenda do que o soneto. As suas propostas para a Justiça e para a Comunicação Social são um verdadeiro desastre e revelam bem como tem uma visão tacanha do país e da vida. Digamos que é um verdadeiro erro de casting e que foi isso que fez disparar as sirenes no partido: a continuarem assim, os sociais-democratas sujeitam-se a uma das piores derrotas de sempre.

Foi pois com naturalidade que Luís Montenegro se chegou à frente. Rio terá desta forma a possibilidade de ‘limpar’ o seu PSD de vez: se convocar eleições diretas o mais depressa possível perceberá de que lado estão os militantes do partido e mostrará se Montenegro está ou não a fazer bluff, dissipando as dúvidas daqueles que dizem que o antigo líder parlamentar do PSD apenas se está a posicionar para o futuro. E se Rio ganhar sairá dessas eleições bem mais forte do que está atualmente.

Parece-me, no entanto, que apesar de Rio controlar o aparelho, Montenegro é capaz de conseguir uma vitória, pois os argumentos do atual presidente do PSD foram postos a nu num ano de mandato. O país precisa de uma oposição forte e Rio é mais uma muleta do partido do Governo do que oposição.

Para animar mais a nossa vida política existe Marcelo Rebelo de Sousa, que além de gostar de telefonar para a televisão, também adora dar colinho a Rio. O encontro de ontem entre os dois ficará na história do país, e revela que o Presidente está a perder a noção do ridículo.

 

Montenegro tem pois um grande desafio pela frente: esperar que Rio aceite o repto de eleições diretas e já, que Marcelo deixe de se meter onde não deve e que, ganhando as hipotéticas eleições, Costa não tenha um saco sem fundo para calar a contestação social.

Mas é certo que António Costa tem tudo para ganhar com maioria absoluta. Basta ver o que se passou ontem na Assembleia da República para o entender: o anúncio de obras públicas  como já não há memória – quem vier a seguir que pague a fatura -, a aproximação aos enfermeiros, além de outras cartas na manga ajudam a compor um ramalhete perfeito. Faltam os professores e os estivadores, mas lá chegaremos. Concluindo: Montenegro fez bem em avançar, pois se ficasse quieto à espera dos desastres de Rio o país teria muito mais a perder.