Ano de perigos para a esquerda

Sobe a impopularidade do Governo e Sánchez pode ver-se obrigado a antecipar as eleições.

Ano de perigos para a esquerda

O recente barómetro do CIS para o jornal espanhol La Razón mostra que a popularidade do Governo socialista, com apoio parlamentar do Unidos Podemos e de independentistas, anda muito baixa. Apenas 12% valoriza o trabalho do Executivo como muito bom ou bom. Pelo contrário, a percentagem dos que o avaliam como mau ou muito mau subiu em dezembro (42,2%) por comparação a novembro (38,5%).

Os socialistas entraram em 2019 sem saber muito bem o que esperar de um ano em que terão de enfrentar eleições autonómicas, municipais e europeias e perdendo para a direita aquele que tinha sido o seu feudo desde as primeiras eleições autonómicas na Espanha pós-Franco, a Andaluzia.

Na sondagem mensal da Celeste Tel, publicada na quinta-feira pelo eldiario.es, tanto o PSOE como o PP sofrem uma ligeira descida nos seus apoios, Unidos Podemos e Ciudadanos seguem mais ou menos igual, e a grande subida é a da extrema-direita, com o Vox a passar de 6,8% para 8,1% em apenas um mês.

No entanto, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e os socialistas têm consciência que apesar da estagnação do PP (na Andaluzia, os populares desceram a votação, ficaram em segundo, mas vão liderar o Executivo), sabem que a abertura de Pablo Casado a alianças à direita com o Ciudadanos e, sobretudo, com o Vox, altera tudo em termos de peso nacional da esquerda e capacidade para governar.

A ‘geringonça’ cozinhada pelo líder socialista a partir da soma de apoios para a moção de confiança que derrubou o Governo de Mariano Rajoy em 2018 é muito frágil e o primeiro-ministro sabe que a possibilidade de antecipar as eleições se manterá em cima da mesa durante este ano. Em conversa com os jornalistas, Sánchez admitiu que sem um novo Orçamento do Estado o seu Governo «claramente não pode chegar a 2020».

Chegou a aventar-se a hipótese de juntar as eleições gerais ao superdomingo eleitoral de 26 de maio, que tem já marcadas europeias, autonómicas e municipais, mas, aparentemente, diz a imprensa espanhola, citando fontes do PSOE, o primeiro-ministro não está a equacionar essa possibilidade. No entanto, com o único parceiro político cujo apoio parecia seguro, o Podemos, a mostrar-se reticente, esta quinta-feira, em seguir com esse apoio, por falta de cumprimento de propostas que tinha acordado com os socialistas, Sánchez poderá ver-se mesmo obrigado, por falta de saídas políticas, a antecipar as eleições e, quiçá, a abrir caminho para o Governo mais a direita que a Espanha terá desde a transição.