Parem de maçar o pagode

1. Uma silly season ainda pior que a de agosto Gosto de ler os jornais no formato papel. Leio vários, escrevo aqui no SOL e tenho o maior apreço por aqueles profissionais que, cada vez com maiores dificuldades, se esforçam por fazer um trabalho decente. Infelizmente, nem sempre conseguem. É o caso da silly season…

1. Uma silly season ainda pior que a de agosto

Gosto de ler os jornais no formato papel. Leio vários, escrevo aqui no SOL e tenho o maior apreço por aqueles profissionais que, cada vez com maiores dificuldades, se esforçam por fazer um trabalho decente. Infelizmente, nem sempre conseguem.

É o caso da silly season de Agosto e, de forma ainda mais irritante, dos balanços de fim de ano, em que se perdem com irrelevâncias inconsequentes: a ‘personalidade do ano’, o ‘acontecimento do ano’, as previsões para o ano seguinte… Ocorre perguntar: não conseguem mudar a fórmula?

O exercício até poderia ter algum interesse – e compreende-se que cada órgão faça o seu próprio trabalho. Para o leitor é que não é a mesma coisa. Quem lê vários jornais não pode achar graça à repetição das recordações e análises, que suporta com o desfastio de quem está condenado a ouvir o único CD que tem em casa. E a pergunta impõe-se: não poderiam os senhores jornalistas acordar entre si a rotatividade dos balanços do ano? Fica a sugestão…

2. E as televisões 

Pior que os jornais, só mesmo as televisões. Felizmente, este ano, ‘a pedido de várias famílias’, não exibiram o Sozinho em Casa, nem o Música no Coração. Mas outros ‘filmes da época’, imagens dos acontecimentos do ano, análises futebolísticas e ladainhas sobre falecidos célebres compuseram uma pastelada só excedida, em chateza, na Semana Santa.

A quem se esmera por preparar uma programação cativante, deixo o conselho: passem o Pato com Laranja. Foi um sucesso pós-PREC e, agora, já não será causa de controvérsia. Para mais, tem a vantagem de revelar aos mais jovens o excelente humor italiano.  

2. E, a propósito de humor… 

Passo ao lado da participação do ministro das Finanças no programa Governo Sombra – se o homem tem graça, ’vou ali e já venho’ -, e fixo-me na ‘deixa’ de Ricardo Araújo Pereira: «Cada vez digo mais frases começadas por ‘no meu tempo’, que é uma coisa que me começa a inquietar»…

Não parece ser caso para preocupação. O tempo não passa para um artista que conserva a irreverência do rapazola do anúncio do ‘Falam, falam, falam…’ Passaram quase vinte anos, RAP passou os 40, um dia destes será avô e, espero bem, o país continuará a aplaudir o humorista, que mantém uma frescura que é imune ao passar dos anos. 

Raul Solnado já nos tinha mostrado que inteligência e bom gosto são coisas que resistem à usura do tempo. Quem o conheceu nunca receou que nele se repetisse o triste fado lusitano, que condena pessoas, ‘em quem luz algum talento’, a resvalarem para a vulgaridade. Não conheço pessoalmente Ricardo Araújo Pereira, mas não é difícil acreditar que sobre ele também não cairá a terrível maldição. Assim continue a não fazer concessões na escolha dos programas em que participa, na criteriosa seleção dos parceiros de trabalho e na recusa da boçalidade do palavrão.

Aqui, o caso não é para dizer ‘não nos macem’, mas para reavivar a esperança: Enquanto existir um humorista inteligente… a Pátria está a salvo. Valha-nos isso!