O PS tem medo dos parceiros da ‘geringonça’?

Fiquei estupefacto mas entusiasmado perante uma série de investimentos anunciados no início deste ano por António Costa

Depois das férias de Natal e Ano Novo, fiquei estupefacto mas entusiasmado perante uma série de investimentos anunciados no início deste ano por António Costa. Depois de três anos de ‘vacas magras’ nos investimentos públicos, de repente o Metro de Lisboa vai ser prolongado entre o Rato e o Cais do Sodré com verbas de uns 400 milhões de euros e o Governo vai lançar um concurso para aquisição de 22 comboios para reforçar as linhas regionais, além de outros fortes investimentos na ferrovia.

Mas não se ficou por aqui este programa de anunciar investimentos em 2019, por coincidência ano de eleições. Com pompa e circunstância, assinou-se um acordo com a Vinci para a construção do ansiado novo aeroporto no Montijo, tão necessário a Lisboa e Portugal, com verbas estimadas em cerca de 500 milhões de euros, a par de um enorme investimento de cerca 650 milhões de euros na Portela!

Estavam as coisas neste pé, quando um ‘distraído’ pergunta pelos estudos de impacto ambiental no Montijo, que se sabe não estarem concluídos. Costa não se atrapalhou – e com a maior das naturalidades garantiu que o aeroporto não avançará se os estudos inviabilizarem tal possibilidade.

Com contratos (ou acordos) assinados, pergunto eu, que sou outro ‘distraído’: como é possível assinar documentos de compromissos se existem elementos fundamentais para a viabilização do aeroporto em falta? Só espero que esta cerimónia de assinatura não condicione os resultados desse estudo, como algumas más-línguas de imediato insinuaram… Tema a seguir nos próximos episódios.

Esta semana realizou-se a 1.ª Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), que se pretende assumir como cívico e não político. Acreditando na Europa e nos valores da liberdade, os organizadores apenas excluíram do convite, como oradores, os membros de partidos anti-Europa e cujos conceitos de liberdade colidem com aqueles comummente defendidos em democracia. No entanto, curiosamente, este movimento cívico rapidamente viu alguma da comunicação social afeta a esses partidos conotarem a Convenção como os ‘Estados Gerais da Direita’, sem cuidarem minimamente de ler o conteúdo dos painéis, e apenas e só com base na presença de alguns oradores.

Desse modo conseguiram afastar diversos oradores da área socialista, apenas resistindo Luís Amado (graças à sua forte personalidade e inexistência de complexos de esquerda). Mas, a médio prazo, estou convencido de que a abrangência política pretendida pelos seus autores se irá materializar. A razão é muito simples: discutiram-se de forma absolutamente pragmática diversos problemas de Portugal, com dados tão objetivos quanto reais.

Ao contrário de congressistas políticos, os debates nos painéis cingiram-se a análises da economia e seus constrangimentos, da educação e seus problemas, do desenvolvimento de Portugal e suas condicionantes. Sendo um movimento de análise política e pretendendo contribuir para uma melhoria do nosso sistema político, houve bastas sugestões para tornar a democracia mais representativa. Em suma, o anátema de ‘Estados Gerais da Direita’ que se pretendeu colar à Convenção foi perfeitamente contrariado pela substância dos debates. E tive sinceramente pena que os mesmos não fossem enriquecidos pelas contribuições democráticas, e certamente valiosas, dos socialistas.

O Partido Socialista – mais à esquerda com Sampaio, Zenha ou Alegre, ou mais à direita com Soares, Seguro, Assis ou Guterres – sempre teve os valores da Europa e da liberdade como referência. Mesmo o primeiro-ministro António Costa os tem apregoado na Europa vezes sem conta, pelo que causa estupefação as desistências de Seguro e Assis, depois dos convites aceites.

Ou, afinal, o PS tem receio dos seus parceiros de ‘geringonça’?

 

P.S. – Li e não queria acreditar: Inês de Medeiros tinha por estes dias alvitrado a possibilidade de ser concedido subsídio de desemprego para os deputados que saíssem do Parlamento! Esta gente não se enxerga?