Eleições. Costa quer “renovar” geringonça depois das legislativas

Primeiro-ministro fez rasgados elogios à atual solução governativa. E mostrou vontade de a manter no futuro, “independentemente dos resultados eleitorais”

O primeiro-ministro, António Costa, já o tinha dito publicamente, mas ontem voltou a manifestou vontade de “renovar” a geringonça depois das eleições legislativas, “independentemente dos resultados eleitorais”. Num almoço-debate promovido pela Associação 25 de Abril e pela revista “Ânimo”, a atual solução governativa – que incluiu PS, Bloco, PCP e Os Verdes – recebeu rasgados elogiados não só do chefe do executivo mas também da plateia, que chegou a ecoar o lema “Geringonça forever”.

O presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, referiu que quer que o PS vença as próximas eleições legislativas, mas não com maioria absoluta. O objetivo é permitir que a geringonça se mantenha na próxima legislatura. E a ideia agradou a Costa. “Se o Vasco Lourenço conseguir reunir todas os eleitores do país e conseguir combinar com todos o resultado certo que lhe dá essa fórmula mágica, fico muito contente”, sublinhou o primeiro-ministro.

Mas, perante uma sala pouco entusiasmada com uma maioria do PS, António Costa deixou um alerta: “O que não convém é, para evitar um resultado [a maioria absoluta], não ter um resultado que não desejamos [que o PS não vença]”. Ou seja, “à cautela, convém assegurar que a atual solução política continua maioritária e que tem condições para continuar a governar”.

Deixando o recado aos seus parceiros no governo, o líder dos socialistas afirmou que “o maior erro era, nesta pressa final de cada um começar a contabilizar ganhos e perdas do ponto de vista eleitoral, colocarmos em causa aquilo que foi um fator de enriquecimento da democracia e de esperança para muitos portugueses, ou por radicalismos precipitados ou por calculismo injustificado”.

Para António Costa, é importante não errar agora no final da legislatura. Quanto ao resto, as provas estão dadas. “É que, independentemente dos próximos resultados eleitorais, esta solução demonstrou muitas virtualidades: permitiu a todos aprendermos, irmos mais longe do que julgávamos que podíamos ir, permitiu a todos uma visão mais integrada do que é a realidade do país e permitiu à nossa democracia ser mais rica do que era anteriormente”, sustentou.

Costa chegou mesmo a atribuir a responsabilidade pela inexistência de “uma corrente populista como já apareceu noutros países da Europa” à solução governativa de que faz parte. “O que tem acontecido na Europa é que os sistemas não têm conseguido encontrar alternativas. Nós fomos capazes de encontrar uma solução”, salientou.

A partir de agora, o importante é que consigam “manter e continuar a fortalecer” o “equilíbrio de mais crescimento, melhor emprego, maior igualdade e contas certas”, defendeu o primeiro-ministro.

“Cavaco deu um grande contributo” António Costa defendeu na terça-feira à noite que o ex-Presidente da República Cavaco Silva contribuiu para que a gerigonça fosse “uma solução de estabilidade”.

Numa entrevista integrada no ciclo de conferências do grupo de turismo ‘PortoBay’, o primeiro-ministro foi questionado sobre as razões para o atual executivo estar em funções há mais de três anos, ao contrário do que muitos esperavam. E a resposta foi surpreendente: “Curiosamente, quem deu um grande contributo para a estabilidade desta solução foi o então Presidente da República [Cavaco Silva], quando exigiu que houvesse uma expressão escrita de um acordo no horizonte da legislatura”, referiu.