Vice de Mesquita Machado diz ter sido vítima de complot político dentro do próprio PS

Vítor de Sousa refere que “caso de falsa corrupção foi para esconder falência fraudulenta”

O vice-presidente de Mesquita Machado na Câmara Municipal de Braga, Vítor de Sousa, afirmou durante o início do julgamento em que está acusado de corrupção na compra de 23 autocarros, “ter sido vítima de um complot político” saído não só, mas também, do seu próprio partido, o PS, tendo “a falsa corrupção escondido uma falência fraudulenta”.

Vítor de Sousa, defendido pelo advogado Artur Marques, falou a primeira vez acerca da acusação de alegadamente ter recebido cerca de 200 mil euros e obtido “desconto” de 26 mil euros na compra de dois automóveis para os seus filhos, negando terminantemente “o recebimento de um cêntimo que fosse desse senhor ou de alguém na minha vida política”

À data dos factos presidente dos Transportes Urbanos de Braga (TUB) e vice-presidente de Mesquita Machado, era já conhecido como tendo sido o indicado para tentar suceder ao “dinossauro” socialista, pelo que, segundo disse aos três juízes e às duas procuradoras, o arguido Vítor de Sousa, disse que “como diz o povo, juntou-se a fome à vontade comer”.

“Conseguiram camuflar uma falência fraudulenta e dolosa, do senhor empresário Abílio Menezes da Costa, com o apoio, como se veio a verificar, de várias estruturas políticas, inclusivamente até mesmo daquela que eu pertencia, o Partido Socialista, para prejudicar a minha candidatura à presidência da Câmara Municipal de Braga”, disse Vítor de Sousa.

Acerca do alegado recebimento de “luvas”, segundo a acusação do Ministério Público, de “comissões especiais de sete mil euros por cada autocarro até 2005 e já depois de 2005 de oito mil euros”, Vítor de Sousa afirmou aos juízes “recusar liminarmente essa versão”.

Questionado pelo juiz-presidente do Tribunal Coletivo, António Pedro, se o vencedor dos concursos públicos, “sempre a MAN Portugal”, em detrimento da Auto-Sueco (Volvo), “estava pré-determinado”, o antigo número dois de Mesquita Machado, Vítor de Sousa, reiterou-lhe que “não é verdade, não corresponde minimamente à verdade essa acusação”.

Mesmo depois do juiz-presidente ter perguntado se, na compra dos autocarros, “tal como no futebol, jogavam todos muito bem, mas ganhavam sempre os mesmos”, Vítor de Sousa voltou a negar, remetendo para “a denúncia anónima, lançada por um documento em 2012 e que eu procurei esclarecer as autoridades judiciárias, só que nunca ninguém me quis ouvir até hoje, por mesmo isso estou agora a fazer declarações, no meu próprio interesse”.

A ex-secretária e antiga adjunta de Mesquita Machado, Cândida Serapicos, que era vogal da administração dos TUB, já presididos por Vítor de Sousa, não quis prestar declarações, estando também a ser julgada por alegados crimes de corrupção passiva e de ter recebido 27.500 euros, para, tal como o principal arguido e um outro “favorecerem” a MAN para a compra autocarros, “prejudicando os próprios TUB”, para além de um terceiro acusado, Luís Vale, diretor de manutenção dos TUB, este que terá obtido “luvas” de 23 mil euros.