O PSD faz lembrar os filmes a preto e branco

Rui Rio deve ser um homem feliz: foi a votos e ganhou de forma clara, conseguindo dessa forma impedir eleições diretas para a presidência do PSD e até descobriu que esta luta interna serviu para mudar o panorama político nacional. «Neste momento é claro que o PS pode perder as eleições», disse depois de vencer…

Rui Rio deve ser um homem feliz: foi a votos e ganhou de forma clara, conseguindo dessa forma impedir eleições diretas para a presidência do PSD e até descobriu que esta luta interna serviu para mudar o panorama político nacional. «Neste momento é claro que o PS pode perder as eleições», disse depois de vencer a moção de confiança. O que mudou então para Rui Rio achar que Costa está tramado e pode perder as eleições? Afinal, a luta protagonizada por Luís Montenegro foi um balão de oxigénio para o PSD? Já se sabe que a memória é curta sempre que se fala de política. Mas recuperemos o que disse Isabel Meirelles, uma das mais fervorosas apoiantes do presidente do seu partido, sobre a ‘jogada’ de Luís Montenegro de querer eleições diretas: «É um plano arquitectado do passado. Ele quer salvar as pessoas que o rodeiam e a ele próprio […]. Na sequência do discurso que ouvimos do doutor Luís Montenegro fiquei extraordinariamente surpreendida pelo tom de vacuidade, politiqueiro, de quem só diz mal. Não vimos ali expressa uma única ideia e isso deixa-me extraordinariamente triste porque esta direcção tinha inaugurado uma maneira diferente de fazer política».

Rio, como já se percebeu, entende que a ‘guerra’ protagonizada por Montenegro foi muito útil, até porque lhe permite fazer a limpeza de balneário com que sempre sonhou. E com as suas tropas nos lugares certos entende que, finalmente, conseguirá fazer oposição a António Costa, em vez de ser seu aliado. As voltas que a vida dá…

Mas Rio começou o confronto com Luís Montenegro da pior forma. A convocação do conselho nacional extraordinário para um dia da semana, às 17 horas, no Porto, não lembraria a ninguém que quisesse uma disputa totalmente transparente. Os deputados que têm assento no congresso foram convidados a faltar à sessão da Assembleia da República e outros houve que não conseguiram ir ao Porto, como foi o caso de Rui Machete.

Depois houve o episódio do voto secreto versus voto braço no ar. Se acho que o voto secreto é muito mais democrático, também não consigo entender que tenha dado tanta polémica a possibilidade de se saber quem estava com quem. Qual a razão para os congressistas terem medo de dizerem se estavam a favor ou contra Rio? Faz algum sentido tanto receio? E é aqui que a mensagem dos apoiantes de Montenegro falhou redondamente, dando a ideia que não querem perder no futuro um hipotético lugar na equipa vencedora. Este triste espetáculo menoriza a política e fez com que o PSD saísse mais fragilizado do que antes do conselho extraordinário. Não saiu dali uma aragem fresca, antes pelo contrário: mais do mesmo da politiquice à portuguesa. Rio terá menos oposição interna, é um facto. Os derrotados vão ter de enfiar a viola no saco e de esperar pela crónica de uma morte anunciada. Ou seja, péssimos resultados nas eleições que se avizinham.

Rio não vai mudar e o seu discurso bafiento e regionalista não deve conseguir cativar novos eleitores para o partido. Olhando para o PSD não se vê uma cara nova, dando até a impressão que é um partido do tempo do preto e branco que preenchia os ecrãs televisivos. Longe vão os tempos em que o PSD era sinónimo de modernidade.

vitor.rainho@sol.pt