O PSD está clarificado como sempre esteve

Rui Rio não podia ter dito o que disse sobre mandar sair quem não pertence à linha mais estatizante que ele defende

Todos os partidos têm o seu excêntrico, às vezes até exibido como ‘bobo da corte’ nos congressos partidários. Mas têm também os seus críticos que não são nada excêntricos, antes pelo contrário.

Muito do que Luís Montenegro disse sobre a direção de Rui Rio é verdade. Assim como muito do que António Costa dizia sobre António José Seguro era verdade. Assim como muito do que Francisco Assis diz sobre António Costa é verdade. Pode não ser a verdade toda, mas é pelo menos uma parte da verdade. Ou seja: dizem coisas que fazem muito sentido para as pessoas dos respetivos partidos. 

Há muita gente no PSD que pensa como Rio, há muita gente que pensa como Luís Montenegro; já no PS muitos pensam como António Costa e muitos pensam como Francisco Assis. Chamam-lhes ‘os críticos’ e os partidos não sabem o que fazer com eles.

Normalmente são pessoas inteligentes, com percursos relevantes nos partidos, têm legitimidade, têm votos, representam militantes, têm pensamento e voz própria que conseguem fazer ouvir – para desespero das direções partidárias, que gostavam de poder fazer o que antigamente se fazia nas aldeias às ninhadas de gatos indesejáveis: afogá-los no rio. 

Mas, mais do que isso, um crítico é uma pessoa muito representativa da linha contrária àquela que no momento governa o partido.

O PSD, desde Sá Carneiro (tão citado…), convém dizê-lo, sempre teve duas tendências bem distintas que se foram confrontando, levando a ruturas violentas e até à saída e regresso do fundador. Teve a Nova Esperança, onde Marcelo, Santana, Durão e Júdice se opuseram a Balsemão por o acharem demasiado próximo do PS. 

Rui Rio conhece a história do PSD – e não podia ter dito o que disse sobre mandar sair quem não pertence à linha mais estatizante que ele defende. É que são milhares de militantes. Uma purga, portanto. 

Aliás, esse equívoco ficou bem patente quando Santana Lopes saiu do partido, escassos meses depois de ter disputado diretas. Rui Rio e a sua direção apoucaram os milhares de militantes que nele votaram. Não perceberam o óbvio: Santana podia sair, mas os militantes não sairiam do partido atrás dele. E, ficando no PSD sem Passos e sem Santana, iriam procurar quem os representasse e lhes desse voz. É essa a circunstância de Luís Montenegro. 

Nas diretas de 2017 Rio venceu por 55-45% e no Conselho Nacional de quinta-feira, sem campanha nem eleições, o resultado foi de 60-40%. O que demonstra bem que, para uma grande percentagem dos militantes que pensam daquela maneira, só falta um líder que os represente.

Por um lado, os militantes que Montenegro federou, embora sejam uma percentagem muito elevada, revelaram-se inferiores à linha defendida por Rio – que ganhou a contenda duas vezes seguidas. 

Por outro, nem o opróbrio de serem enxovalhados por terem votado em Santana Lopes, nem a exclusão, nem as purgas funcionam. É arreigada, profunda, estruturante e clarificada a coexistência das duas linhas de pensamento no PSD. 

Cabe agora a Rio promover a união do partido e disputar eleições.