Montepio. Ermida continua a ser avaliado e Carlos Tavares mantém os dois cargos

Como a instituição sugeriu Ermida para chairman, a data de 21 de janeiro para o fim da duplicação de cargos exercida por Carlos Tavares fica “suspensa”

O nome de João Ermida para ocupar o cargo de chairman da Caixa Económica Montepio continua em análise por parte do Banco de Portugal. O i sabe que a avaliação de idoneidade de Ermida ainda não está terminada, mas como foi apresentado um nome para ocupar esse cargo, o prazo que tinha sido dado regulador para manter Carlos Tavares como chairman e CEO da instituição financeira e que teria terminado no dia 21 fica sem efeito. Isto significa que Carlos Tavares continua a desenvolver as duas funções até que haja uma resposta da entidade liderada por Carlos Costa. Contactado pelo i, o regulador diz apenas que “não faz comentários sobre instituições individuais”.

A medida temporária surgiu depois de o Banco de Portugal ter recusado o nome de Nuno Mota Pinto para o lugar de CEO, mantendo-o, no entanto, na lista de órgãos sociais, onde desempenha a função de administrador executivo. O supervisor justificou com a falta de experiência na administração de bancos de retalho. Nuno Mota Pinto foi administrador do Banco Mundial.

O prazo para o fim da duplicação de funções terminava em setembro, mas Carlos Tavares pediu ao regulador para prorrogar o prazo por quatro meses. Um pedido aceite pela entidade liderada por Carlos Costa e que estabeleceu o novo prazo de 20 de janeiro. Durante este período, o nome de Álvaro Nascimento chegou a estar em cima da mesa. Mas o i sabe que não foi possível chegar a consenso na Associação Mutualista.

A experiência na banca – tinha sido chairman da Caixa Geral de Depósitos entre 2013 e 2016, após a saída de Faria de Oliveira – de Álvaro Nascimento não foi suficiente para convencer a dona do Montepio, uma vez que este tinha sido uma das vozes críticas dos créditos fiscais de que a Mutualista beneficiou em 2017. Em causa estão lucros de 587,5 milhões de euros, bem acima dos 7,4 milhões de euros registados em 2016, passando a ter capitais próprios positivos. As contas da Associação Mutualista Montepio beneficiaram do impacto de ativos por impostos diferidos superiores a 800 milhões de euros.

 

Nome de consenso

Apesar de algumas dúvidas em torno de João Ermida, tanto o presidente do banco como o presidente da Associação Mutualista já vieram garantir que o nome reúne consenso das duas entidades. Falta saber se o regulador também concorda, mas o i sabe que poderá haver alguma resistência por parte do BdP.

Ermida era um dos rostos da Sartorial, grupo financeiro dedicado à gestão de ativos e ao aconselhamento global de investimentos. Em 2011 chegou a acordo com António Godinho – um dos principais opositores de Tomás Correia – administrador da One Biz, para a aquisição da Exchange (marca de franchise de lojas de intermediação financeira de créditos), a Accive (corretora de seguros) e a NBB (empresa de consultoria de compra e venda de PME). Com este negócio – avaliado, na altura, em 2,8 milhões de euros – Godinho entra na administração executiva da Sartorial. O grupo perdeu cerca de quatro milhões em termos de capitais próprios em menos de quatro anos.

Face a estes resultados, a Sartorial deixou de reportar contas ao Banco de Portugal desde o terceiro trimestre de 2013. Isto porque o capital mínimo requerido pelo regulador para uma sociedade de corretagem ter licença para operar no mercado nacional é de 3,5 milhões de euros. Em setembro de 2015, a licença da Sartorial foi revogada a pedido da administração da empresa.

Ao que o i apurou, esta escolha terá partido de Carlos Tavares. Os dois conheceram-se no Santander Totta, quando Ermida era chefe de tesouraria, cargo que ocupou até 2003, e Tavares era administrador da instituição financeira. No entanto, Tomás Correia chegou a admitir que este foi um dos nomes discutidos entre os dois responsáveis e foi entretanto aprovado em reunião de assembleia-geral a 27 de dezembro, onde estiveram presentes três administradores. 

Quem é Ermida

João Ermida e Carlos Tavares conheceram-se no Santander Totta, quando o primeiro era chefe de tesouraria, cargo que ocupou até 2003, e Carlos Tavares era administrador da instituição financeira. 

João Ermida confessou numa entrevista à Visão, em 2017, que tinha abandonado em 2003 um lugar de sonho na banca, quando as práticas já não lhe agradavam e, após pedir ajuda a Deus, com quem comunicou numa igreja de Madrid. “Foi a 22 ou 23 de maio, em Madrid, onde vivia e trabalhava. Nesse dia desci uma rua para apanhar um táxi, mas de repente decidi entrar antes numa igreja que havia ali perto e sentar-me lá. No processo em que estava, entre a racionalização e a minha intuição, pedi a Deus que me levasse a tomar a melhor decisão” e, na mesma entrevista, reconheceu que essa resposta chegou por acontecimentos. “Criou-me um problema no dia a seguir, ao qual respondi daquela forma [demissão] e, com isso, libertei-me do que andava a sofrer”.

Desde aí escreve livros de espiritualidade – o último foi uma novela de louvor a Nossa Senhora, intitulada Vem a Fátima Falar Comigo – e, na mesma entrevista, garante que comunica com Nossa Senhora. “Eu não ouço Nossa Senhora. Comunico com ela”, referiu.

Ao mesmo tempo, João Ermida foi desenvolvendo trabalhos na área financeira, enquanto consultor independente de investimentos.