“Não será alfabetizado”. O jovem autista que contrariou as expetativas e se formou em medicina

‘Tenho que vencer na vida e mostrar que está todo o mundo errado’

Enã Rezende, de 26 anos, sofre de autismo e desafiou a todos os diagnósticos ao formar-se, na última semana, em medicina, em Cuiabá, no Brasil.

Em declarações à BBC News Brasil, a mãe, Érica Rezende, de 46 anos, relembrou como a maior parte das pessoas duvidava das capacidades do rapaz. A mulher, que é também psicóloga, contou que há cerca de 20 anos ouviu uma professora do filho dizer-lhe que este nunca conseguiria ser alfabetizado. Agora, Enã superou todas as expetativas.

"Na graduação fiquei em choque, sem expressar muita emoção, porque estava-me lembrando de tudo o que vivemos desde que ele era pequeno”, recordou.

Enã teve de lidar desde sempre com o preconceito e foi muitas vezes vítima de bullying. O jovem diz agora que a conclusão do curso de medicina o ajudou a provar a si próprio que é capaz de cumprir os seus objetivos.

"Eu dizia para mim: ‘tenho que vencer na vida e mostrar que está todo o mundo errado’. Sempre soube que teria de lutar mais que os outros para conquistar os meus objetivos", contou.

Érica Rezende revelou ainda que o diagnóstico de Enã não foi fácil e que o rapaz sofreu uma grande perda, aos sete anos, quando o pai morreu num acidente de carro ao sofrer um traumatismo cranioencefálico.

“Eu ficava questionando a minha mãe sobre como tinha ficado a cabeça do meu pai. Ela até comprou um esqueleto para me explicar. Não era uma curiosidade normal para uma criança, mas isso interessava-me", comentou Enã, acrescentando que foi este interesse que o que levou a querer estudar medicina.

"Espero que eu possa salvar as vidas de outros pais. A do meu pai não pôde ser salva, mas quero impedir que outras crianças fiquem sem pai", disse, revelando ainda que pretende especializar-se em neurocirurgia.