Maduro acusa Estados Unidos de patrocinarem golpe de Estado

O presidente venezuelano acusou Washington de patrocinar um golpe de Estado para impor um “governo fantoche” na Venezuela e deu 72 horas aos diplomatas norte-americanos para abandonarem o país  

A Venezuela vai cortar as relações políticas e diplomáticas com os Estados Unidos, anunciou ontem o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, num discurso na varanda do Palácio de Miraflores, em Caracas. A decisão foi motivada por estar em “curso uma tentativa de golpe de Estado” patrocinada por Washington e liderada pela oposição interna, com o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, a autoproclamar-se presidente interino da Venezuela.

O presidente dos EUA, Donald Trump, já reconheceu Guaidó, enquanto a Rússia tomou o lado de Caracas ao defender que Maduro é o legítimo presidente eleito do país latino-americano. Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros português preferiu uma posição de meio termo ao apelar a que “seja respeitada a legitimidade da Assembleia Nacional”, bem como o “direito das pessoas a manifestarem-se pacificamente”. O governo disse ainda estar a acompanhar a situação, mantendo-se em contacto permanente com os seus parceiros da UE. 

Para já, Maduro deu 72 horas para os aos diplomatas norte-americanos abandonarem o país. “Decidi romper relações diplomáticas e políticas com o governo imperialista dos Estados Unidos. Fora! Vão-se embora da Venezuela, aqui há dignidade, porra!”, disse Maduro, explicando de seguida: “Não queremos voltar ao século XX, dizemos não ao golpismo, não ao intervencionismo, não ao imperialismo”.

O chefe de Estado acusou Washington de estar a liderar uma operação para impor um “governo fantoche” na Venezuela, entregando os seus recursos às empresas multinacionais. “Têm a ambição do petróleo, gás e ouro. Dizemos-lhes: essas riquezas não são vossas, pertencem ao povo da Venezuela e é assim que será para sempre”, disse num discurso perante os seus apoiantes. “Os assuntos da Venezuela só devem ser tratados pelo próprio povo da Venezuela”, prosseguiu Maduro, deixando uma garantia: “aqui não se rende ninguém”. 

Sobre a autoproclamação de Guaidó, Maduro centrou o seu discurso na vontade e dignidade do povo venezuelano: “É o povo que elege o presidente constitucional da Venezuela. Só o povo dá, só o povo tira”. E, depois, voltando ao ataque, questionou: “Será que qualquer um se pode autoproclamar presidente ou é o povo que elege o seu presidente?”. 

O chefe de Estado também atacou os média internacionais, acusando-os de não transmitirem e noticiarem a realidade que se vive no país, onde “há um povo bolivariano a governar”, dirigindo os destinos da nação. “Todos os média internacionais manipulam e tornam invisível que aqui há um povo bolivariano a governar, dirigindo os destinos da nação, somos maioria, alegria e o povo de Hugo Chávez Frías”, disse Maduro.

Sabia-se que o presidente venezuelano tinha, na terça-feira, ordenado uma “revisão” das relações diplomáticas com Washington depois de o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ter apelado aos venezuelanos para se revoltarem contra o regime. “Em nome do presidente Donald Trump e de todo o povo norte-americano, deixem-me expressar o inabalável apoio dos EUA à medida que vocês, o povo da Venezuela, elevam as vossas vozes num clamor de liberdade”, disse Pence num vídeo transmitido pelo Twitter. Maduro “nunca ganhou a presidência numa eleição livre e justa e tem mantido o poder prendendo qualquer um que ouse opor-se a ele”, acrescentou.