Costa. Mau demais para ser verdade

Portugal é um país bem curioso: passa da euforia à depressão com a mesma facilidade que António Costa perde a cabeça com Assunção Cristas. Até há duas semanas tínhamos o melhor país para se viver, a segurança estava ao nível do melhor que há no mundo, os estrangeiros elogiavam-nos, não havia revista internacional de referência…

Portugal é um país bem curioso: passa da euforia à depressão com a mesma facilidade que António Costa perde a cabeça com Assunção Cristas. Até há duas semanas tínhamos o melhor país para se viver, a segurança estava ao nível do melhor que há no mundo, os estrangeiros elogiavam-nos, não havia revista internacional de referência que não falasse das maravilhas da hospitalidade do povo português. Como que por magia, tudo isso desapareceu com os acontecimentos do Bairro da Jamaica, no Seixal, e calculo que Madonna ao ter conhecimento do que se passou não deixou mais o seu filho ir aos treinos do Benfica, por causa da cor da pele negra.

Sempre o disse e defendi que não somos um país racista, embora não os faltem, à semelhança de todos os países, sejam eles europeus, africanos, asiáticos americanos, ou da Oceânia. Esperemos, pois, que os acontecimentos do Bairro da Jamaica sejam devidamente esclarecidos e que se tirem as ilações necessárias: sobre de quem foi a culpa, mas também sobre o que fazer no futuro. Talvez não fosse mal pensado fazer uma grande investigação na PSP para saber quais são os elementos com ligações à extrema-direita, o que não será assim tão difícil, atendendo ao que devem escrever nas redes sociais, expulsando quem não pode ser um agente de autoridade.

Depois, equipar as Polícias com câmaras de filmar no seu fardamento por forma a sabermos como se desenrolam as suas ações com recurso à força. 

Ficará a faltar a parte mais complicada: resolver os problemas sociais das pessoas que vivem em condições deploráveis, permitindo-lhes acesso a uma vida com dignidade. Há 20 anos, como dizia e bem António Costa, na Quinta do Mocho vivia-se um problema muito idêntico e acabou por ser resolvido, embora tenha grandes dúvidas que os realojamentos tenham sido os mais adequados, pois muitas vezes os governos e as câmaras optam por criar guetos, em vez de dispersarem essas comunidades por outros bairros onde convivam etnias diferentes. 

Mas se António Costa esteve bem no que aos acontecimentos do Bairro da Jamaica diz respeito, quase tudo o resto foi mau de mais para ser verdade na sua intervenção no debate quinzenal no Parlamento. Em primeiro lugar, responder da forma que o fez a Assunção Cristas revela bem a sua formação: perguntar à líder do CDS se lhe fez uma pergunta por causa do tom da sua pele é lamentável. É o primeiro-ministro a deitar mais gasolina na fogueira do debate sobre o racismo em Portugal. Cristas respondeu-lhe muito bem, dizendo que sentiu «vergonha alheia». Costa, como sabemos, convive muito mal com o contraditório e poderá ser isso que lhe poderá retirar a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. 

Como é possível, por exemplo, que um primeiro-ministro do PS, aliado do PCP e do BE, diga que se não há medicamentos nas farmácias para tratar doentes com Parkinson ou diabetes é porque o seu  Executivo não cede aos interesses da indústria farmacêutica? Como? As pessoas não têm qualquer interesse para si? Já se sabe que Costa não lida muito bem com os dramas das pessoas, veja-se o que disse nos incêndios ou nas pedreiras de Borba, mas não seria, no mínimo, de dar uma palavra de conforto a todos aqueles que sofrem por não terem os medicamentos de que precisam? Não seria de dizer que o Governo está a fazer tudo para resolver o problema? Mas, não. Costa já se acha Deus e não tem tempo a perder com essas minudências, como a saúde das pessoas. Ninguém duvida que o PS irá ganhar as próximas eleições legislativas, mas Costa, se continuar com esta pesporrência, afastar-se-á inevitavelmente da maioria absoluta. A seu lado, na AR, Pedro Nuno Santos não foi capaz de soltar uma gargalhada que fosse, tão habitual em si. Afinal, o espetáculo foi mau demais.