Incendiários – do futebol ao racismo

Que semana desgraçada! Um ambiente de terror no futebol, um terror no ambiente do Bairro da Jamaica!

Mas que semana desgraçada! Um ambiente de terror no futebol, um terror no ambiente do Bairro da Jamaica! No futebol, erros arbitrais (vários e para ambos os lados) despoletaram tamanhos dislates que envergonham qualquer um que goste do futebol como espetáculo de emoções. No Bairro da Jamaica, agressões e mais agressões desencadearam reações sobre racismo que envergonham a democracia.

No futebol, os dirigentes esquecem com facilidade que são ‘role model’ e as suas atuações ou discursos, inusitadamente violentos, sem qualquer contenção, geram reacções em progressão geométrica nas massas associativas e sobretudo nas redes sociais.

No Bairro da Jamaica, foi preciso uma rixa entre os seus habitantes em que a Polícia é chamada a intervir com as consequências de violência que se generalizaram para se desencadear uma série de abordagens sociológicas, como se o problema social há muito não estivesse identificado mas apenas escondido debaixo do tapete. Tal como no futebol, políticos inexperientes e sem tarimba vieram lançar achas numa fogueira de emoções apenas para retirar dividendos políticos.

De comum entre estes casos, a falta de vergonha de quem lidera massas, com total desprezo pelos princípios norteadores das relações civilizacionais, a começar no bom senso, desabafando a quente e deixando vir ao de cima a impreparação pessoal e cultural para os cargos que ocupam.

Vamos falar claro: tal como em qualquer profissão, há bons e maus profissionais. Na política como no futebol, há bons e maus políticos/jogadores, bons e maus dirigentes. No futebol, também, bons e maus árbitros, com a agravante de que a estes nada se perdoa, enquanto aos jogadores — e, sobretudo, aos dirigentes — tudo é desculpado. 

No Bairro da Jamaica existem pessoas a viver em submundos, como existe muita gente de bem. Mas realmente, perante as condições de vida que as televisões nos mostram, só nos surpreende que estes gritos de revolta não tenham eclodido mais cedo. 

Pelo meio, as declarações inflamadas (e com expressões ofensivas) de alegados representantes de organizações que dizem lutar contra o racismo mas apenas contribuem para acordar ou ampliar lamentáveis sentimentos de racismo em Portugal. 

Desisti há muito de mudar o mundo! Mas não me conformo com a intolerância que grassa no futebol nem com o acordar do racismo que os incidentes no Bairro da Jamaica nos trazem. Esta gente envergonha o país. Não há santos de um lado nem pecadores do outro! Todos somos culpados! Alguém tem de dizer ‘basta’ a esta gente incendiária do futebol e da política, estes autênticos aprendizes de feiticeiro. Daqui faço o apelo sério ao Governo para explicar aos intervenientes que, a bem ou a mal, este ambiente de fomento de ódios não pode continuar.

P.S. – Quando fiz o exame da 4ª classe, aprendi à minha custa (a propósito de um problema de aritmética em que teimava ter acertado, contra a opinião contrária e unânime dos meus colegas) que ‘não tinha razão’. Aos 10 anos aprendi portanto que, quando todos os outros nos dizem estarmos errados, os devemos ouvir. Será que Rio também se irá arrepender de não ouvir quem vota PSD.